“Deus tem me capacitado a ser o melhor possível no que faço”

Dirigido por Cecil B. DeMille, o filme O maior espetáculo da Terra foi um dos grandes clássicos da história do cinema americano ao mostrar o universo mágico do circo no ano de 1952. Eleito o Melhor Filme no ano seguinte pelo Oscar e pelo Globo de Ouro, o drama estrelado por Betty Hutton, Cornel Wilde e Charlton Heston ultrapassou décadas e, em meados da década de 80, mudou a vida do pequeno Vladimir da Silva Aguiar Junior que conheceu a história de DeMille aos oito anos de idade. Na mesma época, ele assistiu a comédia brasileira Os saltimbancos trapalhões que influenciou ainda mais a sua trajetória até se matricular na Escola Nacional de Circo aos 11 anos de idade.

Do circo sua paixão se direcionou também para a televisão onde, aos 12 anos, fez figuração na novela A Idade da Loba, na Rede Bandeirantes. Vlad Aguiar (como é mais conhecido) também atuou na Rede Globo interpretando um malabarista no último episódio de A próxima vítima (1995) e um trapezista-acrobata na novela Bang Bang (2005), além de um vendedor de balas num curta-metragem que se apaixonava por uma menina rica.

Fotos: Divulgação

Foi na época de A próxima vítima que Vlad começou a se interessar pelo mundo por trás das câmeras quando viu seu primeiro steadicam (um sistema em que a câmara é acoplada ao corpo do operador por meio de um colete no qual é instalado um braço dotado de molas e serve para estabilizar as imagens produzidas dando a impressão de que a câmara flutua). Depois de formado na Escola Nacional de Circo, em 1997, ele iniciou a carreira teatral escrevendo e montando espetáculos. “Eu ainda atuava na maioria deles, após fazer um curta-metragem e trabalhar na produção de uma oficina de cinema chamada CINEMANEIRO, eu comecei a observar que se trabalhasse por trás das câmeras, poderia fazer coisas maiores e concentrar minha energia de forma mais aproveitável”, relembra Vlad.

Cada vez mais envolvido com o universo da direção, Vlad foi responsável por clipes de destaque no cenário gospel e, como estamos em época de Troféu Promessas, três deles concorrem a Melhor Video Clipe na edição deste ano: Boas notícias (Jonas Maciel), Tu podes (Regis Danese) e Ao som dos louvores (Cassiane). Aos 31anos de idade, Vlad já soma 20 anos de carreira e se prepara para, em setembro, lançar seu projeto mais audacioso: o curta-metragem Nova chance, onde cantores viraram atores e promete ser uma ferramenta de evangelização. Casado há quatro anos com Débora Cristina, de 32, o diretor conversou com o Gospel no Divã e contou mais detalhes sobre a carreira e o projeto Nova chance:

1. Formado pela Escola Nacional de Circo, você formou mais de cinco equipes pelo Brasil de artistas circenses e já lecionou para mais de 1000 jovens e adolescentes as artes circenses e teatrais. Como foi essa época e o que de mais importante guarda até hoje em sua vida?

Foi durante algumas edições do Encontrart realizado pelo Ministério Jeová Nissi. Desde novo, meu sonho era ensinar o que aprendi e o Encontrart foi uma forma de poder fazer isso no Brasil inteiro. Também lecionei em uma comunidade chamada Vila do João, que fica na região da Maré (RJ) onde eu fui criado até os 18 anos. O que me marcou foi ver adolescentes largarem pistolas e fuzis para jogarem bolinhas pro alto e darem piruetas no ar.

2. Quando começou seu trabalho na produção de clipes? Lembra qual foi o primeiro que produziu?

Claro, foi ao lado do PC Junior. O cantor foi o Filipe Máximo e a música foi Vem cear, uma produção bem pequena, mas foi divertido ver o PC gravando e dirigindo a turma toda.

 

Filmagens do clipe Jerusalém de Márcio José

3. Quais trabalhos considera os mais importantes de sua carreira?

Videoclipe foi Meu anelo de Chris Durán, pois foi o meu videoclipe sozinho, pois, até então, eu era aluno do PC Junior e sempre que fazíamos um clipe, era ele quem dirigia e eu o ajudava. O videoclipe Jerusalém, de Marcio José, foi uma das mais belas produções que fiz e foi um marco porque, depois de cinco anos, eu convidei o PC Junior pra estar junto comigo e ele topou. A produção foi feita na cidade cenográfica da minissérie Sansão e Dalila. Na verdade considero todos os meus trabalhos especiais, mas teve um em particular que eu chorei muito ao término da gravação que foi o videoclipe Tu podes, de Regis Danese, pois, ao final, eu e ele entramos em uma sala onde tinha uma senhora enferma e começamos a orar por ela. Eu chorei muito, pois me emocionei com a situação da senhora.

4. Qual clipe foi o mais desafiador em sua carreira e qual sua marca característica que gosta de imprimir em cada produção?

Foram três: os dois primeiros do Jotta A e o mais recente da Jozyanne. Os do Jotta A estavam programados para gravarmos no Rio de Janeiro e, em menos de 24 horas, foi alterado pro interior de São Paulo sem eu ter a menor ideia do local. O da Jozyanne foi produzido em 48 horas com toda a parte de roteiro, figurinos, figurantes, equipe técnica, locação... E a edição foi concluída em três dias.

 

5. Nesse ramo de direção de vídeo, você integrou a equipe da ASAS Produções durante três anos. Como foi esse período?

Na verdade, ASAS Produções foi o nome que criamos dentro do grupo ASAS para atendermos esta área de vídeo e cinema. Com minha saída, quero agora inovar nas produções de filmes e fazer projetos maiores com videoclipes.

6. Com uma trajetória sólida na produção e direção de clipes, como e por que decidiu se aventurar no cinema?

Na verdade o meu objetivo sempre foi o cinema, meus sonhos são focados no cinema, amo demais fazer e produzir videoclipes, mas o cinema é meu amor maior.

No cenário das filmagens de Nova Chance

7. E desse desejo nasceu o projeto NOVA CHANCE. Fale um pouco sobre o que ele vem a ser.

É um curta com 15 minutos de trama e mais uns minutinhos de imagens extras dos bastidores. O nome e tudo mais que foi realizado foi totalmente direcionado e escolhido por Deus. O nome surgiu após ouvir uma música chamada Última Chance do Ministério Ipiranga que, a propósito, foi durante uma noite, ouvindo esta música no computador, que Deus me deu as primeiras cenas do filme.

8. Como foi todo o processo para realização do projeto e quanto tempo levou?

O roteiro foi escrito em duas horas e a concepção geral da trama durou aproximadamente um ano. Este foi o tempo que eu levei pra chegar até o dia em que parei e escrevi. Acredite, não houve recursos pra fazer este filme... Ou melhor, o único recurso que eu tive foi o meu próprio e da ajuda de um dos atores que comprou os lanches da tarde. A pessoa responsável pela locação foi o Marcus Guidal que trabalhou na parte de Direção de Artes e Produção. Quando fomos alguns dias antes ver o local, eu já havia gostado do que tinha sido me apresentado, porém, um local, não me foi mostrado. Quando chegamos no dia das filmagens, horas antes de começar, eu vi um local que foi a chave toda do filme. Mudei o local de uma das locações e ficou muito top. Tivemos que limpar tudo antes, mas ficou do jeito que eu queria. Durou 11 horas e foi tudo feito em um único local e único dia.

9. Por que optou em trabalhar com cantores como atores?

Então, na verdade, eu não optei, eu obedeci. Acima de tudo o que eu faço, eu sou um servo de Deus e temo ao Senhor como qualquer crente que lê a Sua Palavra e tem comunhão com Ele. E quando falo que foi Deus quem idealizou tudo isso e tudo o que faço, eu estou falando sério. Para quem não sabe, eu não sou formado na área de cinema e nunca sentei numa faculdade para estudar cinema. Estou no mercado desde os 11 anos de idade e a cada dia, Deus tem me capacitado a ser o melhor possível no que faço e buscar fazer coisas grandes para o seu Reino.

10. Além da estreia que está sendo programada, o filme será comercializado?

Não, meus amigos, de jeito nenhum... Este curta não tem nada de comercial, é um filme que me foi dado pela graça, de graça e de graça será dado a todas as pessoas que precisam de uma NOVA CHANCE e para aqueles que já a tem, utilizarem este material de filme como arma de evangelismo. Lançaremos na rede um vídeo sobre os bastidores assim que o filme for lançado.

11. Qual sua visão sobre o cinema cristão atualmente e qual o maior desafio em atuar nessa área?

Louvo a Deus pela iniciativa de grande proporção que a equipe do Desafiando os Gigantes teve em escrever algo tão lindo e, por eles, eu digo que o cinema cristão entrou na fase que precisávamos. Porém, no Brasil ainda nem começamos, acredito que esta fase está chegando, pois muitos profissionais cristãos estão se atentando para isso agora. Antes, eu creio que havia a vontade, hoje, temos os profissionais, e assim, Deus enviará os recursos. Além disso, existem toda a mídia e a tecnologia que está contribuindo para que o Evangelho seja propagado por meio disto. A mídia cristã hoje é muito diferente do que há cinco anos e creio que chegou o tempo do cinema cristão expandir no Brasil.

 

Bastidores da gravação do curta Nova Chance

Pôster oficial do filme

12. E sobre o uso do cinema como ferramenta de evangelismo? É possível que um filme cristão passe a mensagem do Evangelho e ao mesmo tempo consiga entreter o público sem ser muito piegas?

Só não é possível, como será real isso. Este curta, produzido por nós, prende o telespectador já nos primeiros segundos de cena, pois revela um elenco e seus personagens num conflito de muito impacto. A mensagem é pregada a todo instante, basta você reparar em cada personagem e em sua linguagem corporal.

13. Qual o principal conselho que dá para quem deseja seguir na área do audiovisual?

O limite quem vai determina será você! Não desista! Busque o máximo de conhecimento e estude o tanto que pode estudar, isso vai ser a soma com sua vontade para o resultado do seu sucesso.

14. Quais foram e ainda são seus principais tutores?

Vou falar de todos hein? O Espírito Santo, PC Junior, Bruno Athaydes, Emerson Freitas, Mauricio Soares, Hobby Heat Junior, Omar Elliot, Lars Von Trier e Steven Spielberg.

15. Já tem ideias para um próximo roteiro?

Sim... Bem, como eu sei que vocês não vão contar para ninguém, estamos escrevendo um novo filme sobre... Bom, deixa para uma próxima entrevista (risos). Bom filme a todos! Abraços e valeu, galera do Gospel no Divã!