Ricardo Régener, o
enviado especial do Gospel no Divã ao 14º
Congresso Internacional de Louvor e Adoração Diante do Trono, mostra aquilo
que os outros sites não deram sobre evento:
Fotos: Yuri Cezar |
É quinta-feira da Semana Santa (28/03) e estamos no 14º Congresso Internacional de Louvor e
Adoração Diante do Trono. Mais de 10 mil cadeiras formam um tapete branco
dentro do Pavilhão de Exposições que recebe o evento desde 2012. Os
congressistas chegam cedo. O som, a luz e os LEDs são da qualidade já
consagrada pelo famoso ministério da pastora Ana Paula Valadão Bessa. O release distribuído aos veículos de
imprensa representados dá conta que o Diante
do Trono já vendeu mais de 10 milhões de cópias em 15 anos, e que a
presente edição da já tradicional Conferência será marcada pela presença da
profetisa norte-americana Cindy Jacobs,
do pastor ugandense John Mulinde e
pela gravação do CD Renovo, uma
coletânea rearranjada de sucessos antigos do Diante do Trono.
Mas o Congresso é bem mais que o grupo musical, os números
do release, as músicas ou as pregações.Pelos corredores e saguões do Expominas
passa gente dos 27 estados brasileiros, há casais carregando bebês de colo, há
senhoras de coque e saia longa e meninas de roupas mais modernas, há caravanas
enormes uniformizadas e com grito de guerra, há cegos, há surdos, há
deficientes físicos se esforçando para entrar no auditório, há iniciantes no
showbizz gospel vendendo seus CDs recém-lançados a preços promocionais, há
gente que dança na Igreja em trajes apropriados para tal e muitos, há muitos
adolescentes que lotam o stand para comprar a camiseta oficial do evento e as
novidades da grife SantoLoco que
fazem sucesso entre a garotada. Há até artistas cristãos em trajes coloridos
fazendo esquetes e flashmobs sobre algum tema da Bíblia.
Nas filas (enormes) da praça de alimentação, muitos
sorrisos, reencontros, abraços apertados, pausas para fotos com conhecidos de
longe. “Que benção”, “Glória a Deus” e “Ô abençoado” são burburinhos recorrentes no meio da multidão. Já
na fila enorme para acessar o local do evento há quem chegue mais cedo para
guardar lugar para os dez amigos que ainda estão comendo, há quem puxe o grito
de “não fura fila, não fura fila”. Há também uma senhora negra, colete da
organização, aparência de um metro e cinquenta e cinco, que sorri pra todos e
procura ajeitar a fila como pode: “Ô
amado, vamos andar com a fila, não vamos dar brecha!”.
Ali no stand, promovendo camisas da SantoLoco, a vocalista Marine
Almeida e o guitarrista Daniel
Friesen são disputados por uma pequena multidão de congressistas. Um grupo
de três amigas de sotaque nordestino se abraçam como que comemorando gol após
conseguir uma foto com os vocalistas, conferem a imagem na telinha da câmera,
transpirando adrenalina.
Dentro do auditório, na espera pelo início do culto, há mais
que pescoços que giram: há gente aproveitando pra tirar foto junto ao palco, há
também joelhos dobrados, mãos levantadas, canções que já começam a ser entoadas
aos poucos aqui e ali, coisa bonita de ver. O culto começa pontualmente às sete
da noite e, em poucos minutos, o ambiente se transforma: as mãos se levantam,
os cânticos espontâneos brotam nos lábios e as primeiras lágrimas começam a
cair. No decorrer do culto, pessoas colocam a mão sobre enfermidades e creem
que elas saem, irmãos rodopiam pelo centro de exposição, abordam desconhecidos
e entregam mensagens cheias de ânimo e esperança a desconhecidos que estão no
culto. Jovens de 14, 15 anos pingam de suor, devotam-se, entregam-se com
vontade e sem se preocupar com repórteres nas proximidades. Um deles, à minha
esquerda, retinto e suado, obedece ao comando da Pra. Ana Paula me abraça
forte, abraço de irmão, daqueles de encostar barriga. “Deussshhh te Abençoe”, me diz sorrindo, carioca da gema. A senhora
rechonchuda à minha direita, braços acolchoados, não hesita em me abraçar
também. Sotaque baiano, abraço de mãe, meu coração se derrete e, pela primeira
vez desde o embarque em São Paulo, eu me sinto em casa.
Na manhã seguinte, o rapaz de Chilli Beans passa de novo e
os pescoços novamente flexionam-se, os lábios de alguns proferem sentenças
cheias de certeza. Há duas amigas de coque sentadas na primeira fileira
disponível, uma delas com blusa preta de bolinhas brancas. Contra as regras
expressas do evento, marcam lugar para uma amiga que só vai chegar perto da
hora do culto. Uma moça de sotaque pernambucano não faz cerimônia e desmarca o
lugar alegando que as amigas de coque estão descumprindo as regras e fazendo
algo injusto. As do coque não se fazem de rogadas. Fingem ignorar a
pernambucana, mas conversam entre si em altura suficiente para provocá-la: “Tem gente que não sabe guardar a língua”,
diz uma delas. “Ainda bem que a gente
está no Congresso e não vamos perder a benção por causa desse povinho enviado
pelo diabo pra atormentar”, completa a outra. Sorriem as três, o culto vai
começar.
O roteiro repete-se por todas as outras cinco celebrações
remanescentes. No sábado à noite, final do culto, serve-se a Ceia. O sangue e o
corpo de Cristo derramados por vocês. As pessoas trocam os cálices entre si, se
abraçam e choram o sacrifício que os fez chegar até ali, cantam “Foi o sangue de Jesus que me comprou, foi o
sangue que por mim derramou, se sacrificou e me salvou, foi o sangue que me fez
um vencedor”. Encontro por acaso o moço do Chilli Beans no meio da
multidão. A não ser por mim mesmo, não há pescoços flexionados pra ele nesse
momento. Ele encontrou um amigo para abraçar, trocar o cálice. Tão julgado por
alguns, parece que encontrou seu lugar à mesa na comunhão do pão e do vinho. É
a Igreja de Jesus presente. Talvez ainda não tão imaculada, tão pura ou tão
adornada quanto se deseja ou espera. Mas é a Igreja que, um dia, vai
compartilhar as bodas do Cordeiro em uma grande Conferência celestial.
Ricardo Régener é
Jornalista formado pela ECA/USP, estuda Direito na mesma universidade e vai há dez
anos ao Congresso Internacional de Louvor e Adoração Diante do Trono
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