29 de junho de 2010

Vem aí a sociedade do espetáculo

Por Rogério de Oliveira

O Década Remix chega ao fim agora. Porém, a revolução na qual descrevemos aqui durante essas semanas ainda permanecerá por tempo indeterminado. Vimos que esta década foi marcada por um boom que tirou a cultura gospel da plateia e a colocou no meio do palco e, no fim disso tudo, todos aplaudiram de pé. Aprendemos que é possível associar qualidade e unção num mesmo trabalho e que essa história de que “artista crente” é algo sem qualidade é papo furado. E muito mais que saber disso tudo é chegarmos à conclusão de que também fazemos parte. Galera, o poder da comunicação é inquestionável! (Como eu amo dizer isso! Rsrs). Uma simples twittada pode se transformar num vírus e atacar muitas pessoas. Sim, num vírus. Estudando comunicação aprendemos uma técnica de persuasão que se chama “viral”. Ela é caracterizada por algo super adaptado à linguagem do receptor e que facilmente será disseminada entre todos aqueles que tiverem contato com ela. O mais fascinante é que várias pessoas por aí estão produzindo conteúdo. Com o avanço da internet e com a popularização de sites como o YouTube e das redes sociais podemos facilmente nos transformar em celebridades. Neste último texto, fique sabendo que o artista aqui é você.

Sem entrar em detalhes sobre um grande teórico da área da comunicação, afinal isso aqui não é uma aula de Teoria da Comunicação. Que bom! Rsrs... Mas, um cara muito inteligente chamado Adorno disse que chegaríamos a tal ponto da popularização da comunicação em que qualquer pessoa passaria a produzir aquilo que ela considerasse viável. Meus caros, isso já está acontecendo. Qualquer pessoa pode ter uma página no YouTube e por lá divulgar seus trabalhos em vídeo. E a garantia do sucesso de tais trabalhos, mesmo sendo profissionais ou amadores não é medida por este fator. Como disse antes, como um vírus, esses conteúdos pegam. E o que irá determinar se este vírus irá te infectar ou não é... Hum, deixa eu ver... Então... Bem, galera, a receita eu, o Rafael Ramos e os grandes teóricos atuais da comunicação ainda estamos tentando descobrir. Acontece é que estamos seriamente desconfiados de que não existem fórmulas para o sucesso. Vejamos um exemplo: um vídeo com a Ana Paula Valadão ministrando em uma das apresentações do Diante do Trono com toda sua característica para tal. Quem acompanha esse ministério sabe do estilo no qual a Ana tem para ministrar: ela canta cânticos espontâneos, chora bastante, fala sobre um Deus que é extremamente bom. Seguindo ainda no exemplo, o famoso vídeo em que simularam a Ana Paula chorando pela morte do grande artista da musica popular Michael Jackson é algo que foi muito assistido na internet. Este segundo exemplo de vídeo pode ser facilmente mais veiculado do que uma produção original.


Para entender como o que foi explicado no parágrafo anterior é possível de acontecer, basta simplesmente notarmos que a junção de tudo o que pode levar algo a fazer sucesso está mudando. E está mudando rápido! O que torna os vídeos de Ana Paula um sucesso no YouTube e a relação de popularidade que há entre ela e seus admiradores. Também pode-se citar a abrangência que o DT tem no Brasil. Claro, não podemos esquecer do requinte sempre presente em suas apresentações. Essas características juntas fazem com que o fator sucesso que é igual o fator “Eu enquanto receptor gostei disso” funcione muito bem. Entretanto, eis que surge um vídeo na internet em que aparece Ana Paula Valadão sendo dublada de maneira bem amadora por uma pessoa anônima dizendo e choramingando lamentações pela morte de um grande artista popular... Eis que este segundo vídeo foi feito por uma câmera digital amadora, dessas que todos nós temos em casa... Eis que este segundo vídeo faz mais sucesso do que o produzido oficialmente pelo ministério da artista em questão. O que houve?

Ahan, te peguei! Por esta questão difícil de responder você não esperava. Explicarei! A sociedade do espetáculo é sustentada pelo próprio espetáculo que ela produz. Uma empresa especializada em produzir vídeos ou qualquer outra ferramenta comunicacional irá pesquisar uma forma simples que se comunicar a fim de atingir sem erros o seu público. Um amador que produz algo não precisa disso. Ele também é o próprio público. A proximidade da linguagem é grande e a sátira no exemplo em questão provoca a curiosidade.

Repare que de dois anos pra cá os grandes ministérios de música gospel no Brasil parecem ter perdido força, enquanto que vários outros ministérios estão surgindo, mas sem aquela força extraordinária apresentada nos ministérios novatos do início da década. O que acontece é que a tendência é a fragmentação de todas as nossas opções de escolha. Assim como você pode escolher entre as milhares de denominações de Igrejas que estão surgindo, a música gospel está se multiplicando por todos os lugares. Isso é bom, pois democratiza a sua produção. Com a internet, a divulgação desses ministérios novos também passa por esta democratização. A desvantagem nesta facilidade de se lançar é a facilidade que o público tem de descobrir algo novo. Uma vez descobrindo, abandona-se o velho. Ah, é claro, bem-vindos também a sociedade do descartável. A sociedade onde tudo dura pouco tempo demais. Uma música chama a nossa atenção não mais por cinco meses, mas por duas semanas. Na terceira já descobrimos outra. A quantidade de conteúdo a ser produzido é algo surreal, porém já alertado pelo nosso querido Adorno.

Uma grande preocupação de nossa geração é sobre onde irá se sustentar esta estrutura de comercialização sólida em que estamos acostumados a lidar. Isso mesmo, estou falando do CD, do DVD e das mídias que estão em constante falência. O que serão delas? Olha, pessoal, é clichê e até pode parecer um comentário barato isso que vou dizer, mas é fato: o CD e o DVD irão acabar sim. Não chorem, não fiquem preocupados, outras formas de registro de conteúdo irão surgir. Quais? Então, aí é que está o “x” da questão. Pela primeira vez não sabemos o que nos espera. O vinil acabou quando o CD chegou. O VHS acabou quando o DVD chegou. Estes últimos estão indo embora e não sabemos o que de fato os irão substituir. O que sabemos é que agora todos podem produzir tudo o que quiserem. Disse no decorrer desta série que somos os responsáveis por toda a transformação pelo qual o gospel passou. Fomos responsáveis porque estávamos lá para comprar tudo o que os grandes ministérios produziam. Agora somos responsáveis também por outra grande revolução. Só que desta vez estamos produzindo o conteúdo que regerá tal revolução. Complexo, né?! Sim, é complexo. O que importa é que o louvor e a adoração nunca irão acabar, independente da forma em que eles irão se manifestar. O seu ministério preferido certamente encontrará uma maneira de se manter nos próximos anos, pelo menos é o que esperamos. E, por fim, acreditamos que Deus sabe de todas as coisas. Ao contrário de nós que mal sabemos para onde vamos.


Década Remix começou com uma certeza e termina com uma dúvida. Dizem os grandes estudiosos de todos os tempos que a medida em que eles foram estudando, mais dúvidas foram encontrando. Esta série discutiu algo criado pelo homem: a cultura do gospel no Brasil. Tal significação foi criada para formar uma identidade de nossos artistas ou um gênero como preferirem. Acontece que o futuro não nos pertence e até as transformações estão se transformando. Galera, estamos em 2010 e a década acabou. Daqui a pouco começa outra. Daqui a pouco começa tudo outra vez. Ou então, tudo de outra forma; contudo uma certeza: sempre algo irá começar. Não se esqueçam: música é bom demais! Deus está abençoando!

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