Em plena comunhão na presença do Emanuel

Por Rogério de Oliveira

Vou começar dizendo que ela é negra. Não, amados, não estamos levantando bandeira, foi apenas um início como outro qualquer. A cor aqui é o menos importante, isso apenas nos traz um sentimento bem leve de emancipação, só isso. Até porque mesmo de olhos fechados, podemos ouvir Nívea Soares, uma das maiores cantoras e compositoras do gospel nacional. Mezzosoprano, mineira, casada com Gustavo Soares, sete CDs, três DVDs, adoradora, conferencista, 34 anos, acabou de lançar seu mais recente álbum Emanuel e é sobre ele que vamos falar agora. O Gospel no Divã analisou essa obra e mostra em detalhes todas as características dele. Confiram:

Emanuel é o sétimo CD da carreira de Nívea Soares. Neste projeto é possível comprovar o desenvolvimento e a maturidade de um artista com o passar dos anos, ou então, com o passar de muito trabalho e acúmulo de experiência. O álbum foi todo produzido pelo seu marido, o experiente Gustavo Soares, e distribuído pela Onimusic. Emanuel possui doze canções oficiais e uma faixa bônus. Não como um termo de qualquer análise, mas Nívea está mais madura e suas composições estão melhores do que nunca.

O CD começa com Pra sempre (Gustavo e Nívea Soares), rock and roll assim de início e as guitarras já mostram uma introdução bem moderna para um álbum de música cristã. Um back vocal muito bem montado pelas meninas do Grupo Ellas fazem de um “uôôô...” o motivo pelo qual chamamos esta musica de “pop adoração”. A canção é animada do início ao fim, mas não se enquadra no que chamamos de musica de celebração dos CDs congregacionais. As atribuições teológicas mais conhecidas de Deus como seu governo e domínio são declaradas a Ele na letra da canção. Assim, Nívea introduz seu novo CD.

A segunda faixa do CD, que se chama Em Ti (Nívea Soares), também possui a animação da anterior e este ápice acontece no refrão: “Todas as coisas / Permanecem em Ti, Jesus / A minha vida / Está firmada em Ti, Jesus”. Quando este CD ainda estava em fase de pré-produção, Nívea disse que uma de suas principais influências seria a música inglesa. Esta canção possui arranjos que muito lembram o pop-rock inglês da música gospel. Claro, regado com brasilidade e muito mais composto de pop do que de rock.

Eu tenho fome (Fred Arrais e Gustavo e Nívea Soares) fala da ânsia e necessidade que temos pela presença de Deus e das virtudes dessa presença. Nas ministrações da Nívea, essa expressão – Eu tenho fome – é bastante corriqueira e isso revela uma canção muito autoral. A presença bem nítida da percussão nos arranjos traz um ar de acústico na música. Toda a melodia está em total sintonia com a letra. Se no início, quando a letra diz que tem fome, isso é um clamor; a melodia segue, por assim afirmar, clamando por mais de Deus com os instrumentos. É só ouvir e verificar.

Em meio a pegadas de rock, vem uma canção que faz do piano sua base de melodia. Tua presença satisfaz (Bem Cantelon, Christie Tristão e Nívea Soares) é mais tranquila e não menos intensa. Os arranjos do refrão foram muito bem feitos e a melodia é um presente para os ouvidos. Essa é a primeira canção que, de fato, fala da presença de Deus no CD já que esse é o tema principal de Emanuel.

Em seguida vem Emanuel (Nívea Soares), a canção tema do CD. No início a mistura de moderno com o clássico provocado pela orquestra presente é o que há de mais lindo neste CD em termos de arranjo. A voz da Nívea, diferente do que ela sempre fez em outros CDs e até mesmo no back do Diante do Trono, aqui está mais linear, sem muitas “firulas” com a voz. Isso permite uma certa suavidade das canções e faz com as uma nova tendência de pop americano se insira nas músicas aqui do Brasil. A letra da canção é simples, mas linda! Sem usar muito “evangeliquês”, a canção fala sobre momentos de adversidades e em meio a esses momentos Deus permanece o mesmo e ao nosso lado. No refrão, Nívea uniu, como poucas vezes se vê em nossa música, a simplicidade com a profundidade do que se quer dizer.


Minha habitação (Nívea Soares) segue com a temática da presença de Deus e nos oferece uma letra sem igual, sempre falando do Deus que nos livra e que não nos abandona em qualquer circunstância. A melodia da canção começa de forma suave, ainda com o piano presente na canção anterior. Porém, no refrão, funcionando como um clamor de gratidão, as guitarras entram e a subida de tom dão todo um charme a essa canção. A melodia não é tão pop quanto a de Emanuel e por isso a gente vai gostando aos poucos desta canção.

Meu tesouro (Aaron Keyes, Christie Tristão e Nívea Soares) é a quarta música seguida que fala da presença de Deus em nossas vidas. Em sua melodia, muito se lembra com Tua presença satisfaz e a influência inglesa mais uma vez é nitidamente percebida nos arranjos que compõem o refrão da música. É preciso ouvi-la para perceber essa afirmação.

Num terceiro momento do CD, as canções propõem falar da volta de Cristo e da salvação proporcionada por essa volta. Graça (Nívea Soares) é a primeira delas. No mais autêntico estilo de louvor e adoração, Nívea aqui fez algo muito parecido com o que já havia feito em CDs anteriores no que se refere à melodia. A suavidade dos arranjos se completa com o que o texto nos quer dizer.

Os sinais da volta de Cristo são cantamos em Todo olho o verá (Nívea Soares) com uma tonalidade mais dramática se comparado ao estilo que compõe o resto do álbum. Nívea Soares, em sua carreira, sempre usou de artifícios do black music. Nesta canção, ficam nítidas suas influências de raiz e seu estilo que sempre marca sua voz. A composição é linda e é o tipo de música que só gosta quem procura bíblia em canções. Algo do tipo que as cantoras pentecostais gostam muito de fazer. Vale ressaltar que a comparação com o estilo pentecostal neste caso se resume apenas nisso.

Abram alas, pois em seguida chega a canção mais charmosa do CD – Rei da glória (Nívea Soares). A letra é, por assim dizer, um clichê gospel. Acho que todos os artistas já fizeram música sobre essa passagem bíblica. No entanto, sem exageros, não me lembro de uma união tão bela entre texto bíblico e melodia que traduz uma mensagem. A introdução dos arranjos já se inicia de forma dramática e a voz da Nívea aparece numa versão bem grave. O refrão é lindo nos arranjos, já que mistura guitarras e teclados muito bem colocados. A ponte em que Nívea canta “Maranata” é de muito bom gosto; a volta de Cristo é expressa com excelência aqui.

Velha canção (Nívea Soares) é uma regravação de Uma velha canção que esteve presente apenas no DVD acústico da cantora. A canção aqui está mais suave e é um verdadeiro apelo de conversão no final do CD. De muito bom gosto já que foi dito sobre a presença de Deus e alertado sobre sua volta. Mais uma vez temos os pianos e seu charme clássico, impressionante!

O CD termina com Aleluia, versão feita por Christie Tristão e Nívea Soares da canção Hallelujah de Ben Cantelon. Uma letra simples, mas uma melodia que impressiona, lindíssima! Se um dia fosse feito uma versão pop daqueles corais soul americanos, certamente se resultaria no que essa canção se tornou. Parabéns ao Gustavo Soares por caprichar tantos nos arranjos.

Por fim, incluso numa faixa bônus, o CD traz Nada pode me separar. É um rap interpretado por Pregador Luo e uma singela canção que fala do amor de Deus conduzida por Nívea. Algo super moderno, pena que não entrou no CD em faixas simples como as demais. A junção das influências do hip hop com o estilo adoração funcionou muito bem aqui.

O CD Emanuel revela ser o melhor da carreira da cantora, não só por suas composições, mas pela qualidade com que se apresenta o projeto em todos os aspectos. Nívea está mais modesta como cantora, mas isso se explica pela atual tendência de nossa canção. Em 2011 existe a promessa de um DVD e certamente estamos ansiosos por isso. Parabéns, Nívea, pela constante simplicidade e plenitude de adoração que propõe a nos influenciar com sua música.