17 de fevereiro de 2012

“A minha profissão é reconhecer talento”

Um cara simples que gosta de jogar videogame e futebol na praça, curtir a esposa e as filhas e que gosta muito de conversar e de construir. Assim é Jammes Pires de Castro, mineiro de 32 anos que é produtor, músico, compositor, e diretor da gravadora Bro Produções. Foi em seu apartamento no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio) que Jamba Castro, como é mais conhecido, abriu as portas para receber a equipe do Gospel no Divã e falar um pouco sobre sua história e sua carreira no cenário musical. Se autodefinindo como o gringo mais apaixonado pelo Brasil, Jamba começou sua paixão pela música ainda na infância quando acompanhava a banda de cover do pai nas apresentações pelo país.

Entretanto, a separação dos pais em 1988 fez com que ele se afastasse de sua antiga paixão e fosse morar com a mãe nos Estados Unidos onde reencontrou a música e entregou-se ao amor de Cristo. Hoje ele é um dos produtores de maior influência no cenário mundial, tendo já trabalhado com grandes artistas como Jaci Velasquez, Take 6, Israel Houghton, Donna Summer, Michael W. Smith, Anointed, Out of Eden e Natalie Grant e produzido trilhas para empresas como Coca-Cola, Fox, HBO, Pioneer Electronics e jogos como Car Town do Facebook. Mas além do grande produtor, você terá a chance de conhecer o grande homem e empresário visionário que fizeram com que ele fosse capaz de causar uma verdadeira REVOLUÇÃO com o lançamento do novo CD de Ton Carfi que também foi assunto desse bate-papo:

Fotos: Efraim Fernandes
1. Como a música entrou na sua vida?
Praticamente nasci dentro da música minha vida inteira. Meu pai tinha uma banda de cover que se chamava Raio-X e tinha um caminhão em que viajava o Brasil inteiro pra tocar. Eu me lembro de dormir do lado do bumbo da bateria quando eu tinha uns quatro anos de idade e dos meus tios que cantavam sertanejo. Então, em 1988, minha mãe se separou do meu pai, foi pros Estados Unidos e a música deu uma afastada da minha vida.

2. E como aconteceu essa reaproximação?
Minha mãe tinha um salão e um dos clientes – Sergio Chiacchio – era professor de piano. Um dia ele falou que queria retribuir e começou a me dar aula de piano. Eu tinha uns 11 anos e ele tocou uma peça de Villa-Lobos e minha única certeza era que eu queria fazer aquilo o resto da vida. Comecei a tocar piano e virei o aluno de mais destaque dele sem ter piano em casa. Ia nas lojas pra tocar e praticar. Comecei a produzir com 12 anos de idade e já tô nessa há 20 anos.

3. E qual foi o resultado dessa produção aos 12 anos de idade?
(Risos) Eu produzi um jazz num teclado M1. Quando você cresce ao redor de uma coisa te dá confiança, acaba sendo um ambiente natural, mas foi uma produção bem humilde.

4. Passar grande parte da sua vida nos Estados Unidos ajudou de certa forma nesse aprimoramento musical?
Claro, claro... Eu fui exposto a muita coisa... Ficava lá com os ‘negão’ e toquei numa igreja em que eram quatro horas de culto sendo três horas e meia de música. Cresci ao redor de um ambiente muito gostoso, fui diretor de musical de várias igrejas batistas. As igrejas são celeiros de talentos de cantores e músicos. Eu me dediquei praticamente dos 12 aos 22 e não tinha uma vida social. Eu praticava de oito a dez horas por dia, mas ninguém vê isso.

5. Procurou fazer cursos para se aprimorar?
Eu pratiquei muito, cara, e pratico ainda muito. Quer ver uma coisa simples: tem software em computador que tem 20 mil sons e o produtor não tira uma hora para explorar o que ele tem. Eu tentava não me isolar muito, mas uma coisa que foi muito importante na minha formação foi o meu mentor Michael Omartian que produziu Donna Summer e me pegou debaixo das asas por três anos. Eu nunca mexi em nada porque ele não deixava, mas depois desses três anos eu não tenho medo de produzir ninguém.

6. Como é esse seu processo de produção?
Cara, então, produção é uma palavra que não é muito entendida aqui no Brasil porque produtor não é só fazer arranjo. O Brasil é um país onde tem muito talento e não perde para nenhum outro, só que a gente tem uma carência muito grande de pessoas que pegam o artista e trabalham com ele. Você vê todas as coisas que deram certo: Quincy Jones e Michael Jackson, Glen Ballard e Alanis Morissette, David Foster e Celine Dion. Cara, é um relacionamento muito forte, muito fechado, onde você vira um amigo. Não é esse sistema onde o artista entra e o produtor manda ele calar a boca. O produtor sempre tem uma ideia, vive essa ideia e transmite através desse artista. Tudo parte de um relacionamento, o clima para se fazer um disco é um clima gostoso onde você tem que dar espaço pro artista criar. Eu começo o processo de uma maneira pragmática. O artista entra aqui e eu conheço ele, saber quem ele é. O trabalho do produtor é extrair a essência do cantor porque as pessoas sabem o que é falso.
O que estou tentando construir aqui é um império de entretenimento onde a gente está colocando coisas positivas e a gente está numa guerra cultural no Brasil porque os caras investem R$ 540 mil no kuduro ou 20 milhões no Michel Teló para fazer tocar nas rádios. Você tem que saber que pra colocar fezes no ouvido do seu filho tem uma operação com milhões por 24 horas por dia. Por falar nisso, você já traduziu uma música da Katy Perry como aquela Last Friday Night? É totalmente sobre sexo. Eu vi a Katy Perry quando ela era Katy Hudson. Ela abriu o show de Jennifer Knapp, ela cantava pra Jesus. Foi um dos primeiros shows evangélicos que eu assisti e foi uma grande inspiração pra mim em Nashville onde minha carreira começou a decolar mesmo.

7. Além dos Estados Unidos, você tem um envolvimento profissional com o Japão. Como é o mercado musical nipônico? (2011)
Comecei a trabalhar no Japão com um parceiro meu e sou apaixonado pelo país. Estou aprendendo japonês há cinco anos sozinho, mas tenho o vocabulário de um moleque de sete anos. As pessoas acham que japonês é frio, mas nenhuma outra cultura no mundo consegue me emocionar igual a deles. O japonês é extremamente emocional e uma das primeiras pessoas que evangelizei foi um japonês. Tenho uma ligação muito forte com o Japão e também com o Brasil. Olho pro brasileiro e me valorizo. Aqui tem calor humano, futebol, praia. É muito fantástico!

8. E quando decidiu que era hora de retornar para a pátria-mãe?
Eu vim pra cá em 2009 fazer um disco de MPB do Luiz Arcanjo. Já estava cansado de Nova York e minha expansão na época era a Europa. Mas eu tive uma experiência igual a de Moisés com o Ronald Fonseca e o Luiz quando estava voltando da praia com eles: vi um cara de 16 anos lavando um carro e Deus falou comigo que esse era o meu povo. Brasileiro é um povo trabalhador, aplicado, criativo e eu já queria ficar aqui. Eu falei pra minha esposa que a expansão era pra cá. Deus escolhe as coisas fracas para confundir as fortes e eu sou o gringo mais apaixonado pelo Brasil. O artista quer ir pro Caldeirão do Huck, pro Faustão e por que temos que ser sujeitos a visões de outras pessoas? Cadê os evangélicos? Eu busco é uma excelência! Vamos deixar o kuduro e o Calcinha Preta ser influência da nossa nação?
Essa barreira vai ser sempre ultrapassada porque o povo é inteligente. Eu vim trazer uma nova visão de trabalho ao lado de pessoas que tem visão de excelência. Eu sou uma pessoa que gosta de construir coisas futuras e já ganhei o que eu tinha que ganhar. Sou membro votante da escolha do Grammy nos Estados Unidos, sou um produtor de destaque na cena mundial e não quero ganhar mais dinheiro, quero construir no meu país porque amo os brasileiros.

9. E foi esse desejo de construir algo no Brasil que fez nascer a Bro Produções?
A Bro Produções começou no dia que meu avião aterrissou no Brasil em 2009. Eu já tinha planos de abrir uma gravadora aqui, mas meu plano era Estados Unidos, Japão, Europa, Brasil e Ásia, principalmente China. Eu amo muitas as Filipinas, Austrália e Índia que pra mim é um mercado forte. É bizarro, mas eu falo cinco línguas, cresci num código postal de Nova York que tem mais de 120 nações. Eu jogava bola com galera do mundo inteiro, então eu tenho um coração internacional. Fiquei dois anos procurando as pessoas certas para fazer isso porque tinha que ser pessoas que entendiam a visão de transformação cultural do Brasil de construir um cast de entretenimento de coisas boas de alta qualidade. Eu tenho o Sergio Cavalieri que é meu sócio e há uma grande diferença entre profissão e trabalho. A minha profissão é reconhecer talento. Eu sei que o dom que Deus me deu é conversar com o cara e saber onde ele deve estar e aonde ele vai chegar. Então quando eu vi o Sergio Cavalieri, vi que ele não era só um guitarrista, mas um dono de gravadora visionário e a gente tinha que trabalhar junto e ele estava com planos com esse outro sócio que é anônimo e deu certo. Integridade é uma coisa que eu prezo muito. A Bro começou assim. É um começo simples, mas com o intuito de estabelecer relacionamentos com as pessoas, de ser genuíno, de não roubar nada do artista, de ser uma gravadora que faz diferença no mercado até no jeito que faz negócio, de construir com poucas pessoas, com amigos verdadeiros e mudar com jeito de qualidade. Bro vem de brother, de amizade, de construção, de intimidade e essas coisas boas da vida nascem sempre num contexto de relacionamento.

10. Observando o site da gravadora, percebemos que você optou pelo lado mais alternativo da música gospel. Por que resolveu seguir essa linha ao invés de fazer o que ‘dá certo’?
Você não está cansado da mesma coisa? Você não acha que está muito saturado? Se você olhar, Deus é muito criativo. A nação é composta de pessoas que tem gostos bem diferentes um do outro, entendeu? Por que estou fazendo o diferenciado? Porque eu acredito no povo brasileiro e que ele merece o melhor. Eu não acredito na mentira, cara.

11. E o que você busca num artista para integrar o cast da Bro Produções?
A primeira coisa é a pessoa ser íntegra, muito íntegra. A gente não assina com pessoas que não têm compromisso, entendeu? O cara canta pra caramba, mas tem que ser um bom esposo, um bom pai, referência. O cast tem que ser bom no que faz, mas tem que ter caráter que é a coisa mais importante.

12. Agora, a grande sensação da Bro atende pelo nome de Ton Carfi que lançou um disco primeiro para download no site da gravadora e totalmente diferente do antecessor À espera de um milagre (2009). Como está sendo gerar toda essa revolução no cenário musical?
A gente tem que entender que existe uma geração que fica mais tempo na internet do que assistindo televisão. Chamei o Ton e perguntei o que ele queria fazer e ele disse que queria dançar e cantar. Ele fala que não estava sendo ele mesmo em À espera de um milagre, mas o que está no DNA do artista é agradar as pessoas. A Revolução do Ton foi quando ele quis ser ele mesmo e quem gostar gostou, quem não gostar não gostou. O Ton Carfi representa uma mudança na minha cultura, na minha sociedade, com influência até do mercado secular para mostrar que o cristão é inovador. Queria mostrar um lado amplo do Evangelho que a gente não está explorando. O mercado tem tendências e a gente quer oferecer isso para galera que não quer mais CD, mas também vai vir o álbum físico.

13. E como foi produzir o clipe do single Amor de um herói?
Fui aprendendo várias coisas e não entendia porque eu era interessado nessas coisas. Filme é uma coisa que me fascina e a Bro vai ter uma divisão de filmes e seriados que vai ser muito bacana. Foi tudo combinando. Eu amo fazer esse tipo de trabalho e queria fazer umas coisas diferentes no vídeo. Sempre gostei de viver fora da caixinha e tem uma galera talentosa que estou procurando. Foi uma experiência muito legal, foi uma ralação. A gente tem que parar de pensar que se eu não falar Jesus na minha música não é evangélico. A sua mensagem não é o que você fala, é o que você vive. Em março vamos começar a fazer uma divulgação forte dos nossos artistas e a fazer mais vídeos.


14. Como foi produzir álbuns tão diferentes como o de MPB do Luiz Arcanjo, um mais voltado para o pop com Marcus Salles (CD Meu lugar) e agora o R&B com Ton Carfi?
Cara, esse é o meu lance. Todo grande produtor nos Estados Unidos tem essa habilidade. Por exemplo, o Rick Rubin, que é outra influência minha, produziu Justin Timberlake, Johnny Cash e Adele que são coisas totalmente diferentes. Eu amo fazer isso porque o produtor vive carinhosamente através do artista.

15. Além de produtor você também é compositor. Como é seu processo nessas horas?
Meu processo é demorado. Pego, faço uma melodia, a gente senta e quero que cada palavra seja perfeita. Conto com pessoas como Davi Fernandes e Luiz Arcanjo, mas gosto sempre de envolver o artista no processo porque o artista tem uma mensagem e ele tem mais veemência quando faz parte da construção dessa mensagem. Não adiante ficar colocando coisa na boca do cara.

16. E uma dessas composições é a canção Choro de uma criança que faz parte do repertório do CD Revolução. Ser pai de três filhas de certa forma te inspirou a escrever essa música?
Com certeza. Se a gente não levantar pra falar alguma coisa, ninguém vai falar. Eu estava com o Ton e a gente queria falar alguma coisa para casal, mas a gente viu que o assunto era pedofilia. Aí a gente pegou Maria e Talita para dar a visão de mulher, mas nenhum deles foi abusado, e convidamos o Cacau também. Ter três filhas me preocupa muito e a gente pode virar essa situação. A gente só sabe o que é a pureza de uma criança quando a gente tem filho. Se alguém violasse a pureza delas, eu não sei o que sou capaz de fazer. Esse lance de pedofilia é muito forte e eu quero conscientizar a galera sobre isso e eu me alegro quando a gente consegue falar o que as pessoas sempre quiserem falar e de uma maneira criativa. Todo mundo quer falar sobre pedofilia, mas não sabe como.

17. E por falar na Maria e Talita, elas também são uma das apostas da Bro Produções?
Parece cafona quando falo. Elas são melhores amigas e é a história linda de meninas que vão transformar o que é ser mulher no Brasil. As únicas referências que a gente tem de mulher no Brasil são as mulheres frutas. As adolescentes não têm referências relevantes, é só mulher burra que mostra a bunda e peito e gosta de ser tratada como objeto. Maria e Talita não, as duas têm 24 anos, são mulheres de Deus, são de origem bem humilde. Elas representam a nova voz de cantoras evangélicas no Brasil, elas fazem um estilo musical parecido com o da Rhianna, Beyoncé e Keyshia Cole. Uma das músicas fala: ‘Eu não quero ser boneca pra ficar na tua mão / Fica me zoando, me manipulando, brincando com meu coração’. É pop pra juventude, mas dizendo que a mulher tem seu lugar na sociedade. A galera do gospel vai querer também porque fala de amor e de coisas positivas pra sociedade. É uma tentativa de a igreja sair das quatro paredes.

18. E o que ainda falta para você conquistar na sua vida profissional e pessoal?
Cara, eu quero ver o entretenimento no Brasil exportando talentos. Quero forjar uma nova geração de líderes. Quero mostrar para o mundo que o Brasil é o número 1. Sou uma pessoa muito competitiva e não aceito ver o Brasil em segundo lugar perdendo pros Estados Unidos. Eu quero mostrar pro mundo que o Brasil é mais que futebol e samba. Essa é a minha missão. Pessoalmente, eu quero ser o melhor pai, o melhor esposo, quero saber amar minha esposa mais a cada dia, quero estar presente quando minhas crianças precisarem de mim. Eu não quero que meus sonhos estejam acima da minha família. Eu quero obedecer a Deus, eu quero ser santo, mais santo.

Um comentário:

  1. meu nome é Áurea Leitão, sou cristã evangélica praticante e atuante na palavra, atualmente congrego na Assembléia de Deus em Pesqueira-PE e tenho um sonho a realizar que é gravar o meu 1-CD para a glória do Senhor. Mas, não tenho condições financeiras para essa conquista. porém tenho esperança de encontrar alguém que queira ser usado por Deus para essa bênção chegar em minhas mãos, pois agindo Deus quem o impedirá?
    Tenho hoje em mãos 12 composições as quais o Senhor as confiou a mim para serem apresentadas ao mundo em resgate de almas para o seu Reino. Se Deus tocar em tua vida como caçador de talentos para que o seu propósito seja manifesto na minha vida, é só entrar em contato, meu telefone é:087-9101-6008. Que o Senhor pois nos abençõe! Espero no Senhor. fique na Paz.

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