1 de junho de 2010

Bem-vindos ao Pop Gospel

Por Rogério de Oliveira

Entre e fique à vontade. Daqui em diante faremos uma viagem pela década de 2000. A remixagem deste período marcante na história do que chamamos de Gospel é o nosso assunto principal e, por si só, já é imenso. Antes de conversarmos, vamos entender: a super hiper mega citada expressão Gospel significa Boas novas. Apelando para a etimologia, temos o seguinte: God-spell que no inglês significa good news, ou seja, boas novas mesmo. A boa notícia aqui é que a fase feia e desolada pela qual passou a música gospel no Brasil nos anos 90 não lembra nem de longe o início deste estilo musical que iria dominar o mercado fonográfico décadas a frente.

Vale a pena relembrar: tudo começou no início do século passado nos EUA. Lá, com grupos de religiosos evangélicos negros, dava-se início a um movimento carismático ao estilo daquilo que podia ser chamado de louvor dentro das Igrejas. Imaginem várias pessoas em pé com seus respectivos livrinhos de cânticos nas mãos cantando “Mais perto quero estar meu Deus de Ti [...]”. Então, era assim até então a expressão em canto da adoração ao nosso Deus. Tal revolução proporcionada pelos negros americanos muito tem a ver com outro movimento carismático na cultura cristã ocidental dentro do século XX: o Movimento Pentecostal. Teve início na América do Norte e se estendeu por todo o mundo. Até a Igreja Católica teve seu momento de renovação a partir de 1966. A partir de agora, baseados em textos bíblicos, o Espírito Santo teria uma participação ativa no dia-a-dia das expressões de louvor dentro das Igrejas. O tempo foi passando e chegou-se aos anos 90. No Brasil, o movimento pentecostal crescia a todo vapor. Porém, aqui, até então, a música brasileira não acompanhou este momento de irreverência.


Eis que o primeiro passo para uma revolução que aconteceria anos depois foi dado. Seguindo o exemplo de gerenciamento de artistas da música secular, surge no meio gospel uma gravadora que impulsionou o mercado cristão. Na verdade, ela inaugurou por meio do alcance que conquistou uma roupagem cristã nas mesmas proporções em termos de mercado e qualidade que as gravadoras seculares: eis que surge a MK Publicitá. Hoje a conhecemos como MK Music.

Um cast de artistas diferenciados foi montado. Grandes nomes como: Aline Barros, Fernanda Brum, Kleber Lucas e Comunidade de Nilópolis se tornaram conhecidos nacionalmente. Sem preconceito quanto ao termo, tais personalidades de tornaram pop no mundo cristão. Um cantor não seria mais convidado para cantar na Igreja no culto de domingo antes da pregação do pastor. De agora em diante, eles teriam assessores de imprensa e se apresentariam em shows. Isso mesmo, lotariam praças e locais preparados para as apresentações. O estilo musical era quase sempre algo em torno do pop e que muito lembrava as músicas do pop gospel americano que fez sucesso nos anos 90. Contudo, o Brasil ainda daria as caras. E daria pois verdadeiramente necessitávamos de algo assim bem Brasil. Somos referência como identidade bem definida a respeito de nossa música secular pelo mundo e não seria diferente na música cristã.


Pode parecer besteira aos que nasceram na Igreja dos anos 80 pra cá, mas a entrada da bateria como instrumento dentro dos templos foi algo revolucionário. Os instrumentos de percussão são considerados barulhentos e que lembram desordem. E era isso mesmo que se iniciava: uma verdadeira desordem naquilo que era moldado, enlatado. A bateria foi entrando e tomando conta. Hoje é super comum em diversas igrejas, mas foi um caminho longo até chegar aqui. Um caminho que ficou muito mais fácil de ser transitado após a década de 2000 onde tudo aconteceu.

Durante todo este processo de “modernização” da música gospel, houve os que eram contra. Expressões como “O mundo está sendo trazido para dentro das Igrejas” eram comuns. Não se pensava em uma dança, por exemplo, como expressão artística pura e simplesmente. É simplesmente movimentar o corpo e nada mais. O direcionamento no qual uma expressão corporal será tomado é o x da questão.


O período do final dos anos 90 nos colocou diante de um confronto em que olhávamos para nós mesmos e questionávamos o que é ser adorador. Começamos a buscar uma maior liberdade para a adoração. Esta liberdade poderia (e foi) ser conquistada pela música. Com o sucesso da gravadora MK e os hits de seus artistas tornando-se singles em todo o país, chegou o momento de “abrasileirar” algo que estava apenas começando: o louvor e adoração à brasileira e vários acompanhamentos que vieram com ele.

Na próxima semana vamos falar sobre o surgimento do Ministério de Louvor Diante do Trono e sua importante influência na música gospel brasileira. Falaremos também da popularização do neopetencostalismo e sua contribuição dentro da mídia e sobre as vendagens de CDs evangélicos que ultrapassaram a dos CDs seculares. Aguardem na próxima terça a segunda postagem de Década Remix.

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