16 de outubro de 2010

"O ide de Jesus vai muito além de quatro paredes"

Por Rafael Ramos

A sexta-feira (15) foi bem cheia para a cantora Jossana Glessa e o Gospel no Divã acompanhou um pouco da rotina da cantora no WLC Studio. Envolvida com a gravação de seu novo CD que tem um gostinho de primeira vez: é a primeira vez que ela é produzida por Wagner Carvalho, o Waguinho, e será o primeiro álbum ao vivo do ministério da adoradora. Casada há 13 anos com o Pastor Marcio Fiorini, Jossana, que foi a primeira cantora gospel a gravar charme, contou tudo pra gente sobre o novo trabalho e relembrou o começo da carreira ainda aos oito anos de idade.


Mas para quem acha que gravar um CD é moleza, pode esquecer. Para ouvir um trabalho bem feito são necessárias horas de gravação e repetir o mesmo trecho várias vezes. O técnico Márcio Carvalho, irmão de Waguinho, foi quem orquestrou as três canções – Me recuso (Anderson Peres), Influência de Daniel (Anderson Freire) e Vou mergulhar (Alessandro Almeyda). A turma do back-vocal também marcou presença com Raphael Coutinho, Renato Barros, Bruno Bonatto e Alessandro Almeyda que transformaram o estúdio numa festa com direito até à Twitcam. É... podem esperar porque esse álbum promete e vamos seguir acompanhando tudo de pertinho para manter os fãs da cantora muito bem informados.


1. Você lançou seu primeiro trabalho ainda aos oito anos de idade. Apesar da pouca idade, você já encarava aquilo como um ministério?
No início eu nem sabia o que era um ministério na verdade porque eu era muito criança, mas sabia que aquilo era um chamado de Deus na minha vida. Eu amava cantar desde os três anos no coro infantil da igreja e quando eu vi a possibilidade de cantar solo, eu fiquei louca porque era tudo que eu queria. Meu primeiro solo veio aos cinco anos no dia do meu aniversário em que eu pedi para cantar pela primeira vez sozinha sem o grupo. Eu via todo mundo indo lá na frente solar e eu já me achava adulta. As adolescentes cantavam e eu queria já ser uma delas, mas tudo é no seu tempo. Mesmo criança foi um grande aprendizado para mim saber esperar. Desse dia pra frente foi quando comecei a ter oportunidade para cantar nos cultos, as pessoas que visitavam nossa igreja começavam a me chamar para cantar na igreja delas. O ministério mesmo veio logo após o segundo disco quando eu vim entender o que era aquilo porque, até então, eu nunca tinha subido num palco, nunca tinha ministrado na vida de alguém.
2. Mas o disco Deus é perfeito não foi totalmente um trabalho infantil apesar de ser cantado por uma criança?
Só tinha uma música infantil porque qual criança vai escolher o seu repertório com sete anos. Quem escolhia meu repertório eram meus pais, no terceiro eu já era adolescente e comecei a colocar para fora o que eu gostava de cantar e foi quando surgiu o Águas cristalinas mudando todo o cenário musical porque não existia uma cantora cantando solo naquele estilo. Cantar charme era pecado, então as pessoas chegaram para mim falando que eu era louca por cantar um negócio que ninguém canta, mas é isso que eu gosto de ouvir e sentia falta no meio que a gente está vivendo. Ninguém canta porque é pecado? Acho que pecado é tudo aquilo que contraria a lei de Deus, que nos aflige e não deixa o Espírito Santo chegar até nós.
3. E como foi ser escolhida cantora mirim do ano já com o segundo trabalho?
Foi muito legal porque pra criança tudo é festa. Eu ia muito na Rádio Boas Novas que tinha vários eventos. Toda segunda-feira tinha o Segunda às oito que era dirigido pelo Paulo César Graça e Paz e era o maior barato e era sempre um cantor e uma banda e lotava o auditório da rádio. Eu já estava no meu segundo disco com 11 anos quando tive o prêmio de ser a cantora mais executada na rádio do LP Nada poderá impedir e essa canção era um rock bem adolescente até porque a gente não podia expor tudo aquilo que a gente queria naquela época. Essa canção foi a mais executada do ano e foi muito bom porque a gente amadurece e sabe que tem que fazer outro melhor do que foi antes.
4. Você trouxe o charme à música gospel em 1993 após dez anos do ritmo ter chegado ao Brasil. Não teve receio já que a igreja era um pouco fechada a novos ritmos na época?
Eu louvo a Deus pelas rádios FM porque elas vieram com uma outra visão e os mais religiosos me crucificaram porque eu era uma adolescente de 13 anos, diziam que eu não era crente e queria desvirtuar os adolescentes da igreja e aquele ritmo não era de Deus, era algo de discoteca. Eu nunca fui a uma discoteca, sou crente desde berço e tive que ir pra rádio falar disso tudo. Eu decidi com meus pais primeiramente que é isso que eu gosto de cantar e vou orar e, se Deus estiver nisso tudo, Ele vai usar os compositores para fazer as músicas certas. Eu cheguei pro Oziel Silva e falei que queria uma música nesse estilo e ele perguntou se eu tinha certeza. Ele disse que estava orando para Deus mudar toda essa situação porque a música precisa crescer e isso estava faltando em nosso meio e ele fez Águas cristalinas. Levei todas as ideias pro estúdio e meu produtor fez exatamente da mesma forma. Eu tocava bastante na Melodia, aí veio a 93FM e olha como Deus faz. Eu não era da MK e comecei a cantar nos Cantas, eu era a única cantora que não era da MK e cantava nos Cantas e aí a música estourou. Sempre tive coragem, irmão, e sou muito ousada e depois que lancei charme, todo mundo veio atrás, lancei pagode quando ninguém gravava e depois veio todo mundo. O pagode foi outra muralha que tive que passar, mesmo a música estando mais pra frente o pagode ainda era muito rejeitado. Eu nunca tive medo para essas coisas porque eu sei o Deus que fala comigo e foi isso que aconteceu tanto no Águas cristalinas quanto no O que vai no coração onde gravei o pagode.
5. E como foi na sua primeira gravadora, a Grape Vine?
Eu gravei meu quarto LP na época ainda (risos). Nesse disco eu vim bem para frente e coloquei tudo o que eu ouvia na época: dance music, house, swingue, black, músicas de adoração. Logo depois que terminou meu contrato, fui pra MK e gravei Meu querer. Eu fui Batista por 17 anos e minha mãe era fã da Shirley Carvalhaes e eu gostava de cantar todas as músicas dela, mas, sabe o que é você gostar e não cantar? O que mais me motivava não era o pentecostal, mas aquilo no qual eu já estava incluída que é a música norte-americana. No Águas cristalinas eu gravei músicas com letra mais forte e deu certo, sendo que no quarto LP eu não gravei nada. 98% da minha agenda é Assembleia de Deus e vi que precisava agradá-los e foi na época da MK que tive que aprender a cantar as músicas pentecostais e gravei o forró, a timbalada, rock dos anos 60, blues, mas a música que levou o CD foi Motivos do Josué Teodoro.
6. Já 1998 foi um ano especial para você...
Foi o ano do meu casamento! Estava a um ano na MK e no auge do CD e tudo cooperou na época que fez um ano muito especial. Eu era do Batista e meu marido era da Assembleia dos meus pais onde eu cantava desde criança e minha mãe me falou dele e até brinquei: ‘Que legal! Vai desencalhar aquelas encalhadas que estão lá’. Aí, beleza! Fiquei um bom tempo fazendo meus trabalhos sendo que chegou o Ano Novo e eu faço aniversário no dia primeiro de janeiro e o pastor queria que participasse do culto. Quando cheguei, o Márcio estava no púlpito e, irmão, calça jeans e tênis era pecado pra ele. Nesse dia ia ter um luau em Citrolândia e as meninas me convidaram, liguei pra minha mãe e ela me deixou ir com as meninas. Cheguei lá e já estava tudo pronto e foi ótimo, sendo que de manhã o Márcio chegou de blusa ‘mamãe sou forte’, calça de moletom e sandália de dedo. Eu estava de biquíni e canga jogando futebol com os meninos (risos), ou seja, totalmente o inverso dele. O Elias (irmão do cantor Marco Aurélio) nos apresentou e comecei a rir quando eu vi que era o bendito fruto. Foi assim que começou, oramos 15 dias até porque eu não queria por ter terminado um relacionamento e pela loucura que estava meu ministério e Deus confirmou. Namoramos, noivamos e casamos em um ano e um dia e estamos juntos há 13.
7. É mais fácil ter o marido como empresário?
Às vezes porque eu sei que ele é muito cobrado. Eu sou perfeccionista e ele também é demais ao extremo. Ele me cobra as coisas naturais, eu esqueço tudo. É bom porque soma, mas é ruim porque as pessoas sabem que ele é meu marido e choram... Eu nunca deixo de cantar em igreja nenhuma, vou no morro e já cantei até pra bandido parados na porta da igreja. Quando você encara como um ministério, você tem que pregar não importa pra quem e a maioria dos que estão ali são desviados, filhos de irmãs de consagração. Às vezes eles compram meu CD e pedem oração. Um dia eu subo no tapete vermelho e no outro dia canto numa igreja que não tem nem chão. O ide de Jesus vai muito além de quatro paredes, Deus não olha se você estar num ambiente da Zona Sul, Ele é Deus em qualquer lugar e veio para salvar a todos.

8. Em um dos seus CDs, você regravou Final feliz da Rose Nascimento e fez um dueto com Mattos Nascimento em Anjos poderosos. Qual foi a importância da Família Nascimento em seu ministério?
Eles são muito meus amigos. O Mattos é um amor de pessoa, é uma pessoa que Deus o chamou mesmo. Quantas almas esse cara já ganhou pra Jesus? Rute, Rose foi minha madrinha de casamento, Marcelo, Wilian já fez meu back, Gisele e Michele são minhas amigas. Já gravei músicas do Marquinhos. Essa família tem um chamado que é lindo. Quando a Noêmia se casou, Deus chegou no dia do casamento e falou que vou abençoar vocês com o dom da voz de geração a geração. Todas as pessoas cantam.
9. Como foi o período na You Entertaiment?
Virou You Gospel por causa de mim e do André Lima que foi a pessoa usada por Deus para que eu estivesse lá também. Foi o melhor período de gravadora em toda minha vida. A You é uma gravadora não-evangélica e eles queriam que eu gravasse secular porque eles afirmavam que não tinham nenhuma cantora com meu timbre. Tinha 20 anos de ministério e não ia jogar isso fora porque tinha certeza do meu chamado. Acabou que eles se renderam e fechamos contrato e lancei Tudo que sou.
10. Em uma entrevista, o diretor Beto Azevedo disse que a ideia original para o clipe Motivos era que você andasse de bicicleta, mas teve que fazer alterações por causa da época. Como foi essa gravação?
Não tinha como pedalar porque ia marcar meu corpo porque eu estava de vestidão e a imagem ia ficar péssima e a coisa mais louca do mundo é que passei o clipe inteiro empurrando aquela bicicleta. Até perguntei se ele não queria que eu trocasse de roupa, mas ele disse que não ia rolar. Aquela janela tem uma história. Ele disse que queria filmar naquelas janelinhas antigas e perguntou se eu conhecia alguém que tinha uma casa assim e eu falei que não. Ele falou que não podia ser qualquer janela e fomos procurar na casa dos outros. O clipe foi gravado perto da rodoviária nas linhas do trem e achamos uma casa. Ele chegou na cara de pau, se apresentou e falou: ‘Senhora, preciso da sua janela’. A moça ficou assustada e ele explicou que precisava gravar na janela e ela deixou na hora, só não queria que gravasse dentro da casa para não aparecer a bagunça. A janela dela ficou famosa, foi muito engraçado naquele dia e depois fomos pro Alto da Boa Vista e depois fomos pra praia fazer aquela imagem em cima da pedra.


11. E o que você acha dos clipes que são produzidos hoje em dia?
Olha, eu acho que clipe é como se fosse um mini-filme até porque a música não deixa de ser uma pregação. Quando você coloca um filme dentro daquela música, você transforma aquilo ali num filme pequeninho que você tem que mostrar uma história em fração de seis minutos. Acho que todo clipe tem que ter uma história. Estou produzindo uns clipes meus e eles são como se fossem filmes pequenos em que contraceno com algumas pessoas. Hoje você vai no shopping e vê duas meninas se beijando e, se você tem um filho, ele vai perguntar. Hoje não tem mais essa coisa de vamos esconder. Acho que a realidade tem que ser mostrada sim. Se a música fala para você largar as drogas, você tem que mostrar como os viciados fazem e pra onde eles vão. Aquilo é uma mensagem que você vai levar. Fazer um clipe como se fosse um filme é até mais profissional do que você chegar num quatro por quatro e cantar. Clipe tem que ser produzido, não é chegar com uma banda por trás e cantar ou com play-back. Tem que ter produção, mesmo que seja só você cantando senão vai ser igual a cantar na igreja.

12. Em sua comunidade no Orkut, você pediu que os fãs sugerissem canções para seu novo repertório. Por que usar essa tática?

Primeiro que nunca vi ninguém fazendo isso e essa ideia foi do meu marido. Sempre regravo alguma música em cada disco meu e, quando vou nas igrejas, as pessoas pedem para regravar essa ou aquela música. Então surgiu a ideia e foi muito interessante e vou gravar duas canções. Uma é um medley com Meu tributo, do Israel Houghton, e Quão grande és Tu, mas com um estilo totalmente diferente bem pop-rock. Também estou regravando muito uma canção que me toca muito de um compositor que é um amor de pessoa – Pastor Wanderly Macedo. Ele não é de dar música pra qualquer pessoa, mas eu fui agraciada com essa amizade de muitos anos e quando eu questionei, ele falou que eu podia regravar qualquer música dele. Tem uma canção da Shirley Carvalhaes que não tem como sentir a presença de Deus em todas as vezes que ela canta que é Vendavais porque foi muito especial num período conturbado da minha vida e essa música veio como um carinho de Deus e vou gravar no meu estilo, mais baladão.
13. O que mais teremos no novo CD?
O CD está bem pop-rock com a produção do Waguinho (Wagner Carvalho) que faz muito bem essa praia. Ele é bem moderno e eu queria que o disco viesse assim e foi algo de Deus porque somos amigos de longa data e ficamos um bom tempo sem se ver. Quando falei sobre o novo CD, a primeira pergunta dele foi com quem estava gravando e se já tinha repertório e foi quando surgiu a ideia de fazer com ele. O povo pode esperar muita novidade além das duas regravações porque o CD vai ser ao vivo e a gente quer captar bastante a igreja cantando para dar aquele ar de ao vivão mesmo. São 15 canções porque não consegui tirar nenhuma porque foram chegando músicas muito especiais, uma foi encaixando com a outra.
14. Você declarou em seu blog que está na luta contra a pedofilia e temos visto um aumento de casos na sociedade. Qual quadro faz dessa situação?
É complicado porque isso existe até dentro das nossas igrejas, é um caso que é muito quietinho, mas agora está sendo revelado. As pessoas que estão dentro da igreja e vivem nessa prática ou se consertam com Deus ou elas precisam tratamento. Vivendo numa época em que o mundo está praticamente entrando na igreja e influenciando está totalmente errado. Então, o que a gente puder fazer para a igreja reagir falando sobre esse assunto, eu vou fazer.
15. A igreja está preparada para enfrentar essa situação?
Sim, com certeza! A igreja sempre esteve pronta! O problema é que a maioria dos líderes não abre os olhos para não se meter nisso. Isso também está dentro da igreja.
16. O que ainda falta ser conquistado pela Jossana Glessa?
Ah, muita coisa (risos)! Ih! Eu sonho muito e a gente tem que ser um pouco de José, né? Sonho em gravar meu DVD, faço 25 anos agora em janeiro e é bem marcante no ministério de qualquer pessoa. Estamos lutando, orando, jejuando, buscando a Deus para que isso aconteça o mais rapidamente possível. Pegaria todos os sucessos de todo esse tempo desde o terceiro LP e logo depois quero ter filhos. Já são 13 anos de casada e isso também está nos meus planos e quero que esteja nos planos de Deus.

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