“Cada disco que faço é como se fosse a última coisa que fosse fazer no mundo”

Entre poemas e canções, Leonardo Gonçalves segue a viver e cantar músicas recheadas de arte e conteúdo enriquecido pelo que há de melhor no perfeccionismo do cantor que pelo seu talento chegou a ser indicado ao Troféu Promessas. Após o período de divulgação do disco Avinu Malkenu, o primeiro álbum totalmente em hebraico lançado no mercado evangélico brasileiro pela Sony Music Gospel em que o músico fez uma descoberta de suas raízes, o esposo da também cantora Daniela Araújo se prepara para lançar o CD Princípio e fim em fevereiro de 2012. Com 12 faixas (sendo duas sequências instrumentais), o repertório irá tratar sobre a eterna tensão que há entre os que almejam o Reino de Deus vindouro sem se lembrar do Reino de Deus neste presente tempo. Com o conhecimento que lhe é peculiar, Leonardo dividiu alguns detalhes sobre esta nova produção com o Gospel no Divã nessa entrevista que você lê a seguir:

Fotos: Rafael Paressa

1. Antes de falarmos sobre o novo CD gostaríamos de saber como está sendo a repercussão do disco em hebraico?

Então, eu sou um cara muito tranquilo em relação a esperar repercussão ainda mais com esse disco é um CD atemporal e ele não vai ficar velho daqui a cinco anos. Eu não tenho dados fenomenais, sensacionais pra te apresentar, mas existem muitos casos isolados de pessoas que entraram em contato com esse CD e gostaram muito. Agora o que posso constatar é o fato de o meio cristão ter se aberto mais em relação às questões judaicas e de uma maneira não tão pequena houve uma diminuição razoável do anti-semitismo que ainda existe. Pela visibilidade que a própria Sony trouxe com esse CD em hebraico, isso pra mim já é uma grande vitória.

2. Pensa em gravar DVD ou clipe de alguma canção do repertório hebraico?

O que a gente fez foi a comemoração de um ano de lançamento em setembro deste ano e lançamos um vídeo como se fosse um mini-documentário de dez minutos que fala sobre a gravação desse CD. Clipe eu não sei se é interessante, mas acho que vou fazer um segundo CD em hebraico que vai ser mais litúrgico para que possa servir de material para os judeus messiânicos poderem usar em seus cultos e acaba sendo também um material interessante no meio acadêmico.

3. Na entrevista feita em 2010, você disse que o próximo trabalho em português trataria a tensão do agora e do vindouro que existe no cristianismo. Como está trabalhando isso no CD?

Claro que essa discussão é milenar e é evidente que não vou resolver essa questão através da música. A escatologia é um assunto que concerne a todos os cristãos e, por mais assustador que isso soe, é um dos pontos em que a gente mais diverge e estou querendo ser o mais bíblico possível para ser o mais conciliatório também. Da mesma maneira que Jesus foi 100% Deus e 100% homem, o Reino de Deus é 100% aqui e 100% no futuro. Esse novo CD tem algumas músicas que focam mais no Reino de Deus vindouro, algumas tratam do Reino de Deus aqui e tem faixas que tratam dos dois dentro da mesma música, mas tudo gira em torno disso. Passei por vários nomes diferentes e acabei me fixando numa música improvável que é a que fecha o disco e tem a participação da minha esposa Daniela Araújo que é Princípio e fim escrita pelo Felipe Valente que é um grande compositor que dá continuidade ao meu trabalho com Poemas e canções, Viver e cantar e Avinu Malkenu que me transformou como ser humano.

4. Como está sendo o processo de produção?

Tenho milhares de pessoas me ajudando, mas vou assinar como direção musical ou direção artística. O produtor é quem carrega a responsabilidade tanto de prazo quanto de orçamento e qualidade do produto que vai sair. Uma parte foi produzida pelo meu pianista Samuel Silva, outra pela minha esposa Daniela Araújo. Eu não pré-determinei, mas analiso como foi feita cada coisa.

5. Podemos dizer que esse é seu disco feito em menos tempo se comparado ao de música hebraica que levou seis anos para ficar pronto?

Dentro da realidade do mercado, um disco se produz em até no máximo três meses. Na realidade da minha vida estou um pouco fora da minha realidade. O Poemas e canções levou exatamente um ano e dez meses e o Viver e Cantar foram dois anos de pré-produção e levei um ano para fazer depois que assinei com a gravadora. Já esse novo disco estou fazendo em tempo recorde para mim. Comecei a pré-produção em janeiro e comecei a gravar no dia primeiro de abril e vai sair agora em fevereiro, mas vale ressaltar que era para ser lançado em abril, mas vai sair em tempo recorde, mas totalmente fora da realidade de mercado. Tenho várias razões para demorar tanto, mas uma das principais seja o fato de eu mesmo produzir e sou idealista ao ponto de cada disco que eu faço é como se nunca mais fosse fazer nenhum outro, como se fosse a última coisa que fosse fazer no mundo. Quando termino o disco a sensação é de que agora eu posso morrer (risos). É um negócio meio insano, mas eu não deixo cartas na manga pro próximo. Todos os sonhos têm que se realizar agora.

6. E quanto ao repertório?

Serão 12 faixas, sendo dez músicas e dois instrumentais. Têm duas regravações: Jamais, do Felipe Valente, e Eu acredito, do Tiago Arrais, que são os dois músicos e artistas evangélicos pelos quais tenho a maior admiração pela quantidade de conteúdo e relevância que a música deles traz e infelizmente o trabalho dos dois não é muito conhecido e são pérolas que precisam ficar um pouco mais conhecidas. Para 90% do público as regravações vão ser como se fossem inéditas. Eu me senti chamado de regravar essas canções e levá-las para um público maior.

7. E trabalhando na produção ao lado da Daniela Araújo é impossível não levar trabalho para casa?

A gente trabalha 24 horas por dia. Depois que você dorme, você sonha com música. É o trabalho mais legal do mundo, mas não existem férias, principalmente da criação e da produção. Parar de pensar em música não existe. Ter alguém como a Dani com o talento e conhecimento dela acompanhando meu trabalho tão de perto foi a melhor coisa que me aconteceu. Quando você chega a achar que todas suas ideias são boas normalmente é o momento em que acaba a sua carreira e você não tem mais nada interessante a dizer, mas também não pode confiar em qualquer pessoa. Tenho meu pastor que é meu conselheiro de letras para ver se não há algum erro teológico. Márcio, meu irmão do meio, cuida da parte emocional da música e o André, o mais velho, cuida do lado mais técnico ouvindo as freqüências e vendo os arranjos. E na Dani eu tenho isso tudo em uma pessoa e é muito bom porque ela não só tem intimidade para me refutar como tem competência para isso.

8. E o que pode falar sobre o projeto gráfico?

Eu gosto muito de ter consultores para coisas diferentes e ter conhecido alguém como o Carlos André (Gomes, designer) foi fenomenal. A gente teve muitas discussões sobre a capa do CD em hebraico e foi interessante para ele porque a parte gráfica foi fenomenal e nesse segundo disco já temos convivido um pouco mais por email e está mais ousado e ele conseguiu dar uma continuidade para a capa do disco anterior.

9. E qual o balanço que você faz do seu período na Sony?

Estou tendo oportunidade de trabalhar com pessoas que eu não trabalharia se não estivesse aqui e meu trabalho está ganhando uma visibilidade que ele não ganharia em outro lugar. Estou dando várias entrevistas em rádio e TV sobre o CD de música judaica e como isso seria possível se eu não estivesse na Sony? Tenho uma segurança que me traz um suporte muito grande e já vou fazer dois anos e o input que recebo do Mauricio, do Carlos André e da Claudia (Fontes, responsável pelo marketing) são coisas maravilhosas.