10 de janeiro de 2012

Uma Aliança entre o gospel e o pop

Fotos e arte: Marcus Castro (Imaginar Design)
Não há princípio nem fim quando se observa uma aliança. Entretanto, somos acostumados a pensar, seja no que for, procurando identificar algum início ou término. Simplicidade é outra característica de uma aliança, já que é um símbolo, um ícone; e esses são simples. A cultura pop também é mais ou menos assim em sua essência e história: durante todo o tempo houve expressões que impressionavam grandes maiorias e sempre haverá. Logo não se conhece o princípio nem o fim desta tendência. Continuando, o que é pop, certamente é simples.

André Valadão, que dispensa apresentações ou descrições de sua carreira, foi um dos precursores a inserir os conceitos da música pop no gospel produzido em nosso país. Desde que se despontou para a carreira solo, sua postura e a roupagem musical e também artística dos seus álbuns carregam a cultura pop desbravando um novo gospel, que inclusive já é banal, se analisarmos esse comportamento nos últimos dois anos.

Aliança, simples e icônico, é o mais recente projeto do cantor mineiro e traz consigo a temática de Gênesis 9: 13: “O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será por sinal de haver uma aliança entre Mim e a terra”, foi o que disse Deus a Noé, quando o Dilúvio terminou, firmando ali com ele a promessa de que não destruiria mais a terra com água e propondo com toda a humanidade um novo relacionamento. O arco-íris compõe toda a parte gráfica do CD, que foi desenvolvido pelo talentoso Marcus Castro, da Imaginar Design. A capa, em si, ilustra a faixa de cores do arco-íris, nenhuma delas com princípio ou fim mostrados no layout. Ainda na capa, o nome do CD, que também possui uma fonte sem apresentar por onde começa ou termina a palavra Aliança, ou seja, uma aliança de fato. Buscando referências nas expressões artísticas no fim da década de 80 e meados da de 90, quando o pop se estagnava por todos os lados, a construção das imagens na parte interna do álbum apresenta várias cores se contrastando, e uma mistura do real (imagens da gravação do CD, que ocorreu no dia 01/11/11, na Lagoinha em BH) com alguns elementos surreais como bolhas e formas geométricas. Basta assistir aos clipes da MTV lançados nos anos 90 e você entenderá a freqüência do surreal neste contexto.

Eu tenho uma aliança dá o start no primeiro projeto independente de André Valadão.Uma introdução com aplausos já denuncia o quão ao vivo está o áudio e uma bateria bem marcada e com batidas repetitivas já nos remete a simplicidade. Destaque nesta canção para a junção rítmica entre bateria e uma guitarra a lá Ruben di Souza, responsável pela produção do CD. A letra da canção apenas diz que antes de tudo existir, já havia uma aliança simbolizando o relacionamento entre Criador e criatura.

“Meu coração bate mais forte por esta aliança de vida ou morte, com alegria escolho viver, nada pode quebrar nossa aliança de amor”, uma balada essencialmente pop veste a letra da segunda canção: Nada pode quebrar. Letra que fala sobre a imponência dos que firmam uma aliança com Cristo. Uma musicalidade contagiante e um arranjo rebuscado casados com um refrão que gruda na cabeça, definem-se assim este exemplo do quão pop tem caminhado nosso gospel.



Na fase de produção deste CD, André Valadão disse que havia buscado inspiração em sons indianos para a composição melódica das músicas. Sabe-se que é na Índia o lugar onde acontecem as maiores “raves” do mundo, eles são especialistas no assunto. Assim se faz a base e o arranjo de Banquete. Um som “tecno-music”, que certamente foi aprimorado na pós produção é a soma de uma uniformidade surpreendente de todos os instrumentos usados na gravação. A letra da canção descreve alguns aspectos de como se dá o relacionamento com Deus: assentar em Sua mesa, ser adotado por Ele, comer do Seu Banquete.

A canção mais congregacional do álbum até então chama-se Majestoso. A letra versa exaltando ao Deus que está em Seu trono, um típico texto de louvor e adoração. Na introdução da música, temos um violão eletrônico, que com uma batida também eletrônica, porém suave, nos conduz à reflexão. Em seguida, uma levada mais rápida com destaque para uma versão bem suave e charmosa dos metais já tradicionais na banda do cantor.

A quinta faixa do CD é uma canção espontânea em que André ministra cantando ainda sobre a temática do CD. A batida eletrônica da música anterior prossegue junto com os instrumentos de base. A mensagem aqui é a fim de convidar ao Deus glorioso e majestoso para entrar em nossas casas, nossas vidas.

Aliança de amor, certamente o maior single do CD, compõe a sexta faixa do disco. Das canções compostas por AV neste projeto, é a mais bonita. Veja bem: “Tenho uma aliança que é maior do que eu. Tenho uma aliança que foi feita com Deus. Mesmo quando meu mundo parece acabar, quando os sonhos se frustram, vou confiar na nossa aliança.” Ainda com um arranjo rebuscado, tendência em toda sonoridade que compõe as canções, destaque para a orquestra de cordas que, brilhantemente, deram uma identidade musical para a canção.

A sétima faixa também é um espontâneo lidamente interpretado por um André inspirado dentro da temática do álbum. As cordas seguem abrilhantando a ministração. A pregação cantada segue por mais de 12 minutos convidando a todos para um relacionamento profundo com Deus, vale a pena ouvir. Ainda sobre os espontâneos, é bastante discutível a inserção desses momentos em um disco que pretende ser, além de outras coisas, comercial. É bonito de se ouvir pela primeira vez, da segunda em diante, as pessoas tendem a pular esse tipo de faixa. Faz mais sentido quando é inserido num registro audiovisual.

Com letra do André e música do Rubinho, o produtor do álbum, Minha oração chega quebrando toda agitação proposta até aqui. Uma canção lenta e reflexiva fala sobre manter a aliança com Deus nos momentos difíceis da vida e compara esses momentos com um deserto, por exemplo. O piano, desta vez, é quem acrescenta à canção ares clássicos e congregacionais.

Mais um espontâneo na faixa nove, desta vez mais agitado que os anteriores e marcado pela interação entre o ministro e seu público. Caracterizando majoritariamente neste momento, ora guitarras, ora um contra-baixo com bastante evidência.

Nada vai me separar de Ti é outra canção com um forte potencial pra ser single. Talvez por isso, já ganhou um clipe que está sendo veiculado no Youtube. A letra é um excesso de simplicidade e por isso fixa rápido. A orquestra de cordas volta com tudo compondo um acabamento musical lindo e suave. Com um arranjo linear, a música segue até o fim repetindo o refrão ( é Aliança brincando de ser pop na décima faixa).



Um grande clássico do Diante do Trono é regravado (mais uma vez), trata-se de Águas purificadoras, aqui também, no estilo Ruben di Souza de ser. A letra todos já conhece e, da melodia, foram preservadas suas características congregacionais, adicionados alguns elementos do pop rock.

Em seguida, temos a versão de André Valadão para o original All because of Jesus do álbum We Shine (2007) do americano Steve Fee. Só por Jesus é marcada por uma balada interpretada com metais numa sonoridade rápida e, como não poderia deixar de ser, pop em essência. O arranjo da canção lembra canções tipicamente interpretadas por grandes nomes do gospel nos EUA, como Michael W. Smith e Chris Tomlin.

Finalizando, tem-se Dia feliz, que também é a versão para um grande hit de Tim Hughes e Bem Cantelon, que por sinal, foi versionada por Christie Tristão e Nívea Soares. Observando os arranjos desta canção é possível identificar a identidade musical do Rubinho como produtor e arranjador do projeto. É impressionante como toda a roupagem do disco se mantém uniforme, mesmo com a diversidade proposital percebida durante a audição das músicas. O CD termina mais pop do que nunca e conseguiu terminar dentro da mesma linha com que se começa. Isso significa que não se perderam no caminho da produção.

Aliança apresenta um conceito gráfico muito bem amarrado, como poucas vezes o gospel nacional proporciona. O texto das canções é simples, talvez até demais, porém não foge do tema, peculiaridade relevante e importante. Este projeto não traz consigo algo que seja extremo tanto positivamente, quanto negativamente em termos técnicos. A quem pretendia ser pop, foi bastante feliz com o resultado final. É um CD com personalidade própria e por isso mesmo, dispensa o escudo no seu encarte; entretanto, um mero detalhe. Viva aos álbuns temáticos e bem amarrados que fazem tanta falta para a nossa música. Quando algo está bem amarrado, bem definido, torna-se difícil encontrar seu início ou seu fim, logo uma Aliança. Como prometido, em Março o registro audiovisual do projeto será lançado em DVD, com direção de Alex Passos.

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