17 de março de 2012

“O deserto é passagem obrigatória para quem quer crescer”

“Posso afirmar que só cheguei até aqui por causa dos desafios! Os desafios fazem parte da vida, e são responsáveis por nos fazer crescer”. Aos 31 anos, o cantor Daniel Ranquino é alguém realmente movido a desafios e não é daqueles que se esmorece ao primeiro “não”. Como ele mesmo aconselha “um ‘não’ não é a última palavra” e esse é o motivo que o fez querer continuar mesmo depois de ter perdido a chance de fazer parte do hoje Ministério Apascentar de Louvor em um teste feito pelo cantor Davi Sacer em 1999.

Membro da Assembleia de Deus Missão Vida, presidida pelo Pr. Otoni de Paula Jr., Daniel começou sua jornada cristã na Assembleia de Deus Ministério Emanuel, no bairro carioca de Rocha Miranda, onde ficou até os 18 anos. Mas o caso com a música começou desde cedo por volta dos seis anos de idade quando já batucava nas panelas de casa e se divertia com um gravador de fita K-7. Profissionalmente, seu primeiro envolvimento foi como vocalista da Banda MV7 que formou para uma apresentação da faculdade até lançar seu primeiro disco solo – Frutos no Deserto. Divido entre a carreira musical e o trabalho missionário no Ministério Missionário PORAMOR fazendo o chamado evangelismo urbano. Aproveite agora para conhecer mais da carreira de Daniel Ranquino nessa entrevista que ele concedeu ao Gospel no Divã:

Fotos: Fernando Veiga
1. É antiga a frase que diz: “Filho de crente não é crente”. Apesar de ter nascido em berço evangélico, quando e como você realmente teve sua primeira experiência com Deus?
Evangelho é experiência pessoal! Uma hora Deus se revela para nós e isso faz parte da vida cristã. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que fui batizado com o Espírito Santo aos 11 anos. Foi uma experiência inesquecível e daí em diante tudo em minha vida mudou.

2. Como começou seu envolvimento com a música?
Com uns cinco ou seis anos de idade eu já batucava panelas dentro de casa (risos). Com uns nove anos, após minha vó comprar um gravador de fita K-7, eu passava horas fazendo gravações.

3. Você compôs a primeira canção aos sete anos. Ainda lembra que canção foi essa e pensa em gravá-la um dia?
Sim, lembro... Só não dá para eu gravar (risos). É uma música de criança, mas quem sabe na produção de um CD infantil.

4. Como encarou que você não nasceu para ser mais um, mas que Deus tinha algo maior para você?
A resposta para essa pergunta está na maneira como nos vemos em Deus. Aquele que é nascido de Deus não nasceu para ser mais um. Quando descobrimos e assumimos nossa posição em Deus, a visão que temos da vida muda completamente e nossa total felicidade encontra-se no centro do nosso chamado. Isso muda nossa posição no mundo e então deixamos de ser apenas mais um para sermos aquilo que Deus quer que sejamos.

5. Pode-se dizer que você é alguém movido a desafios?
Posso afirmar que só cheguei até aqui por causa dos desafios. Os desafios fazem parte da vida e são responsáveis por nos fazer crescer. Deus é o maior interessado em fazer com que nossas vidas sejam cheias de desafios. Nossa fé é provada em meio aos desafios.

6. Apesar dos sonhos, transformá-los em realidade nem sempre é tarefa fácil e receber um não nessa caminhada pode ser desafiador. Quando você se mudou para o Ministério Apascentar de Nova Iguaçu em 1999, você participou de uma seleção para a gravação do primeiro CD do Toque no Altar dirigida pelo Davi Sacer em que você não foi aprovado. Conte-nos como foi essa experiência.
Eles (o Toque no Altar) ainda não haviam gravado o primeiro CD, mas estavam se estruturando para isso. Sendo assim, logo quando abriram vagas para audição, eu me candidatei. A audição não foi muito boa, estava muito nervoso e as coisas não foram muito bem. Fiquei um pouco triste quando algumas pessoas que estavam na sala começaram a rir de mim. No final tive a resposta que não havia passado nos testes, mas isso não foi capaz de me fazer desistir dos meus sonhos.

7. Como foi lidar com um não que é algo nunca esperado?
O ‘não’ é um grande fantasma a ser encarado. É uma palavra que faz parte da vida, mas temos que ter em mente que um ‘não’ não é a última palavra. Fiquei triste, mas não desanimei. Era um preparo para outros ‘nãos’ que teria que enfrentar em minha vida.

8. Em 2002 você foi para a Assembleia de Deus Missão Vida onde é membro atualmente e onde surgiu a Banda MV7. Conte sobre esse episódio da sua vida?
A banda MV7 surgiu logo quando cheguei na igreja e conheci muitos músicos que ali congregavam e rapidamente criamos um vínculo de amizade muito forte. Nessa época, eu trabalhava na Universidade Estácio de Sá e surgiu uma programação organizada pela própria instituição cujo intuito era dar oportunidade para que os funcionários pudessem mostrar seus talentos. Sendo assim, logo me inscrevi como cantor. Tinha em mente usar essa oportunidade não só para mostrar meus ‘talentos’, mas para falar do amor de Deus. Rapidamente compus uma canção especificamente para o evento que ficou sendo a música de trabalho da banda – Foi bom te conhecer. Foi nessa ocasião que surgiu a ideia de criarmos uma banda que era composta pelos músicos da minha igreja onde eu era o vocalista. Para participarmos do evento, tínhamos que dar um nome para a banda e logo nos veio à mente as iniciais do ministério onde congregávamos – Missão Vida. Agregamos as iniciais MV ao número 7 que representa a perfeição divina e assim surgiu a banda MV7. O estilo musical misturava um pouco de soul e MPB e durou cerca de dois anos, mas a banda terminou por motivos pessoais de alguns músicos.

9. Sua mãe foi de grande importância no início do seu ministério e chegou a custear seu primeiro CD que nunca chegou a ser lançado. Por que isso aconteceu? Alguma música desse CD chegou a entrar no novo álbum? Pensa em lançá-lo um dia?
Uma coisa que temos que entender em nossa caminhada cristã é o tempo de Deus. Nesse caso tive que aprender com as circunstâncias. Não era o tempo e foi difícil entender isso. A gente sempre acha que está pronto, mas Deus tem o conhecimento de todas as coisas e Ele sabia que aquele não era o momento. O estilo musical naquela época era outro completamente diferente do que eu canto hoje, sendo assim não aproveitei nenhuma canção nesse novo trabalho. Não penso em lançar este álbum, muita coisa mudou de lá pra cá.

10. Pensou em abrir mão de tudo?
Já passei por muitos conflitos internos a ponto de me perguntar ‘O que estou fazendo aqui?’, mas a certeza do chamado sempre foi mais forte dentro de mim. Já me senti muito fraco e me questionei por muitas vezes, mas graças a Deus que nunca me deixou desistir. Sempre tive em mente que está mais perto de chegar do que de voltar, então nesse caso é melhor seguir em frente e confiar em Deus.


11. Tanta espera valeu a pena e finalmente você lançou o CD Frutos no deserto no ano passado. Como foi a concepção do projeto?
A produção do CD Frutos no Deserto começou há uns cinco anos. Sempre fui muito perfeccionista e como já havia me equivocado no CD anterior, tinha que fazer o melhor nesse novo trabalho. Tudo foi muito lento, pois, para fazer um trabalho de qualidade no nível que gostaria, exigia muito dinheiro que no momento eu não dispunha. Fiz muitos acordos trabalhistas para que assim eu pudesse ter recursos para dar andamento ao trabalho. Muitos anos sem férias, muitas privações, muito choro, muitas lágrimas... A princípio eu não seria o produtor do disco, pois mesmo recém-formado em produção fonográfica, me sentia inexperiente para um desafio tão grande. Quem iria produzir o disco não estava dando a devida atenção ao trabalho, foi então que resolvi assumir a produção e contar com a capacitação do Senhor para tal. No decorrer da produção, novas músicas surgiram e não hesitei em substituir músicas que já estavam no repertório pelas novas. Foi uma luta muito grande, mas Deus me deu vitória. Tive a oportunidade de gravar com músicos renomados como Rogério dy Castro, Rafael Costa, Leonardo Reis, Valmir Aroeira, Fael Magalhães, Jane Magalhães e Cleide Jane. Foi um presente de Deus gravar com essas pessoas, pois não teria a mínima condição financeira para contratá-las. O CD conta com músicas congregacionais com forte influência do pop-rock. Todas as músicas são de minha autoria exceto Clama minh’alma que fiz em parceria com a dupla Alex e Alex. Produzir esse disco foi desafiador e uma experiência inesquecível para mim.

12. Desde o início estava nos planos que seria um álbum ao vivo? Como foi a preparação da sua igreja para a gravação?
Não tinha em mente fazer um disco ao vivo, pois sabia que daria muito trabalho, mas o que seria de nós se não fossem os desafios... Desafio aceito! O primeiro passo era ensinar as músicas para a igreja o que não era tão simples assim, pois significaria um tempo maior na produção para quem estava ansioso pra terminar o disco. Tendo o apoio do meu pastor, do ministério de louvor e principalmente da minha igreja, foi mais fácil encarar esse desafio. Fico muito emocionado de lembrar o dia da gravação com toda a igreja cantando as canções. Sou grato a Deus pelos membros da minha igreja. Como eles foram bênção na minha vida!

13. Por que optou pelo título Frutos no deserto?
A canção Frutos no Deserto foi uma das últimas canções a entrar no repertório. Fiz essa canção na intenção de dar para algum outro cantor gravar, mas logo percebi que o que estava cantando era a minha própria vida. Frutos no Deserto fala da minha trajetória, do meu sofrimento e principalmente da esperança que tenho em tudo aquilo que Deus me prometeu. Acho que não encontraria um título mais apropriado do que este. Isso também é profético para quem lê e ouve.

14. Em relação ao projeto gráfico, quem ficou responsável pelas fotos e conceito da capa? Cada detalhe tem um sentido especial como as flores embaixo da cadeira e você estar com uma roupa de frio no ‘deserto’ ou foi tudo por acaso?
O fotógrafo Fernando Veiga ficou responsável pelas fotografias que foram tiradas em Cabo Frio. Eu já tinha uma ideia do que queria para a capa do CD, mas não foi muito fácil. A ideia era tirar fotos em um lugar que lembrasse um deserto, mas onde encontrar um lugar assim no Rio de Janeiro? Com a grana curta e pouco tempo para finalizar a parte gráfica, tivemos que improvisar com o que tínhamos e as dunas de Cabo Frio nos ajudaram muito nesse sentido. Tudo na capa tem um sentido: as flores brotando em meio uma terra seca e subindo por onde eu estava sentado, quer dizer justamente que Deus faz nascer flores e frutos onde ninguém imaginaria que pudesse nascer – o deserto. A roupa de frio é para mostrar justamente que eu estava de passagem naquele deserto e que o meu lugar não era ali. Queria que não só as canções dissessem alguma coisa às pessoas, mas, ao olharem para a capa, fossem impactadas por uma mensagem.

15. Como a formação em produção fonográfica colaborou para seu ministério?
Eu me formei em Produção Fonográfica pela Universidade Estádio de Sá. Após formado, fiquei um bom tempo sem exercer a profissão e cheguei até a pensar que havia perdido tempo com um curso que não me deu um retorno imediato. Mas Deus tem seus propósitos e após produzir meu próprio CD, percebi que tudo estava dentro dos planos de Deus. Hoje me sinto apto para produzir um disco e entendi porque tive que passar por tudo o que passei.

16. Qual a importância que sua família e a igreja tiveram e têm até hoje em seu ministério?
Tenho certeza que se não fosse Deus e minha família eu não estaria aqui. Minha família é uma intercessora fiel do meu ministério e sempre acreditaram no que Deus tinha pra minha vida. Sou eternamente grato a minha mãe, minha vó e minha tia por serem canais de Deus para mim. Minha igreja também é peça fundamental na minha caminhada. Em toda a minha vida como cristão, Deus sempre colocou pessoas que me abençoassem em todos os sentidos. Agradeço a Deus por todas elas.

17. Além da música você coordena o Ministério Missionário PORAMOR. Como e em que data esse ministério surgiu em sua vida e quais trabalhos tem realizado?
Entendo que a música na minha vida é uma arma que Deus me deu com a intenção de me capacitar para um projeto maior: ganhar almas. Esse é o meu chamado! O ministério PORAMOR foi criado a partir dessa consciência. Senti que precisava fazer alguma coisa fora das quatro paredes da igreja e foi assim que no ano de 2009, com uma caixinha de som no metrô de Coelho Neto, nasceu o Ministério PORAMOR. Somos um grupo criado coma a intenção de colocar em prática o Evangelho de Jesus Cristo utilizando diversas formas e meios para proclamar este Evangelho onde tentamos explorar todas as possibilidades para que Cristo seja conhecido. Hoje fazemos trabalhos com moradores de rua e dependentes químicos assim como organizamos eventos de evangelismo estratégico como é o caso do evento Pintando o 7.

18. Em que consiste o chamado “evangelismo urbano”?
Quando falo de Evangelismo Urbano, falo do evangelismo que leva em conta as mudanças sociais de uma nação, a cultura de uma sociedade, o estilo de vida de determinadas tribos e que de uma forma inteligente e estrategicamente direcionada pelo Espírito Santo, leva um Jesus completamente acessível às pessoas.

19. Quais são os desafios em se pregar no metrô e qual a maior experiência desse chamado?
O primeiro dia a gente começa meio tímido, mas bastam alguns minutos e não queremos deixar de fazer isso nunca mais. Quando vimos, o evangelismo já tinha tomado uma proporção tão grande que chegamos a fazer um culto jovem no local. As pessoas paravam na plataforma superior do metrô para assistirem o culto e muitos voltaram para Jesus naquele lugar. A maior experiência que vivi até hoje foi a recuperação de um vizinho que há mais de 30 anos era dependente químico. Eu e minha amiga Patricia Batista, que é vice-líder do Ministério PORAMOR, lutamos pela vida desse rapaz até o fim. Conseguimos um centro de recuperação onde ele se recuperou. Deus restaurou sua família, seus sonhos, sua dignidade e hoje é uma benção nas mãos do Senhor.

20. Voltando ao tema do CD, deserto é um lugar que muitas vezes temos que enfrentar sozinhos. Quais as maiores lições que aprendeu no deserto?
Aprendi a confiar em Deus. Mesmo no deserto, Deus está conosco e Ele nunca nos deixa. O deserto é passagem obrigatória para quem quer crescer. No final Deus sempre nos faz colher Frutos no Deserto!

21. Uma das faixas do CD se chama Rasga o silêncio. Em que momentos você sente que é preciso rasgar esse silêncio?
Ultimamente estou tendo que rasgar o silêncio todos os dias (risos). Sei que há momentos em que até nos faltam forças para falar, mas entendo que mesmo no silêncio do nosso coração, Deus sempre ouvirá o clamor da nossa alma.

22. Com o CD e o ministério missionário, sobra tempo pro Daniel?
No momento tenho me concentrado na divulgação do CD e isso exige todos os esforços possíveis para um cantor independente. Paralelamente temos projetos evangelísticos em andamento. Na verdade essa é a vida do ‘Daniel’: investir tempo naquilo em que fui chamado é a minha vida, é meu prazer.

23. Em seu release você cita vários personagens bíblicos. Como a vida de cada um serviu para construir a sua vida com Deus?
Na verdade Deus foi construindo a história da minha vida de uma forma que cada etapa se encaixava na história de um personagem bíblico. Fiquei muito emocionado ao ler o release da minha vida quando uma amiga estudante de jornalismo, Larissa D’almeida, me apresentou o texto. Pude ver a mão de Deus em cada linha. Verdadeiramente percebi que minha vida é dirigida totalmente por Deus.

24. Quais os próximos planos para seu ministério? Há algo que ainda não foi conquistado?
Deus tem me ensinado a sonhar os Seus sonhos, pois quando sonhamos os sonhos de Deus nunca nos frustramos e há sonhos plantados em meu coração que ainda não foram realizados. Um projeto que está em pauta, e é um sonho que arde em meu coração, é a criação de um centro modelo de recuperação para dependentes químicos. De uma coisa eu tenho certeza: ‘O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e jamais penetrou no coração do homem, é o que Deus tem preparado para mim’. A vida do crente é de eterna conquista e sempre vamos ter o que conquistar.

Um comentário:

  1. Eu conheço ele, já tive a oportunidade de estar ministrando em uma igreja no mesmo dia que ele. É um GRANDE servo de Deus, QUE DEUS CONTINUE ABRINDO MUITAS PORTAS para o Daniel!!!

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