27 de setembro de 2010

"Todos necessitamos da graça de Deus e de Seu perdão"

Sentindo-se realizado com a concretização de um sonho que foi gerado durante seis anos, Leonardo Gonçalves está entusiasmado com o lançamento de seu enfim CD em hebraico – Avinu Malkenu. E foi neste momento de profunda alegria e gratidão que Leonardo Gonçalves concedeu essa entrevista exclusiva para o site Sony Music Gospel que foi cedida ao Gospel no Divã. Mostrando-se um cantor bastante antenado nos últimos acontecimentos da música evangélica e um profundo conhecedor da história dos judeus, Leonardo ainda falou sobre os preparativos para seu próximo CD, dessa vez em português.

1. Conte para nós um pouco de sua história. Como começou a cantar e quantos CDs na sua carreira?
Eu comecei a cantar aos 15 anos de idade num colégio chamado IASP que fica em Hortolândia, interior de São Paulo. Eu havia recém chegado da Alemanha, onde vivi por quase dez anos, e ainda nem sabia falar português direito, mas, mesmo assim o Lineu Soares – maestro do coral – me convidou para participar do Coral Jovem do IASP que, na época, tinha 160 vozes. Ele também foi quem me convidou a participar do grupo Tom de Vida, mas demorou mais de um ano pra eu ganhar meu primeiro solo… Aliás… O Tom de Vida foi realmente a minha escola; a primeira vez em que segurei um microfone, a primeira vez em que entrei em estúdio para gravar, meu primeiro solo, minha primeira gravação de solo, minhas primeiras entrevistas de rádio e apresentações em igrejas e teatros. Foi um tempo muito bom em minha vida que durou, se eu contar junto com meu tempo no grupo Novo Tom que nasceu do Tom de Vida, quase oito anos. E foi o tempo que tive de me preparar para um trabalho solo que se iniciou com o lançamento do CD Poemas e Canções em 2002 e se consolidou com o CD Viver e Cantar em 2007, ambos pela gravadora Novo Tempo.
2. E este primeiro trabalho pela Sony Music, por que estrear com esse CD tão diferenciado?
Na verdade é uma coisa realmente curiosa… E tenho muito que agradecer a Deus e ao Mauricio Soares por este privilégio… Demorei seis anos para gravar este CD e preciso admitir que sempre sonhei com a Sony Music para distribuí-lo, até porque como se trata de um CD sem uma palavra sequer em português. Ele poderia ser distribuído mundialmente, havendo interesse e estrutura para isto; e claro que a gente pode sonhar (risos)… Somente o fato da gravadora abrir um departamento para música cristã/evangélica justamente no momento em que este trabalho ficou pronto para mim já é uma coincidência que só posso atribuir a Deus. É claro que na minha primeira conversa com a Sony eles nem sabiam da existência deste projeto e, na verdade, estavam interessados no meu trabalho regular em português mesmo, mas graças a Deus, especialmente depois de ouvirem o resultado, aceitaram o desafio de iniciar minha atividade com a Sony com um projeto tão diferenciado, até porque ele já estava mixado e masterizado.
3. Conte para nós como foi todo o processo de produção deste trabalho e o que significa o título deste CD?
Avinu Malkenu traduzido significa Nosso Pai, Nosso Rei e é, talvez, a principal oração litúrgica do ponto alto das festas judaicas que são conhecidas como os dez dias temíveis entre Rosh HaShaná (o ano novo judaico) e Yom Kippur (o dia da expiação). É uma súplica, quase um clamor a Deus para que Ele seja misericordioso e nos dê o Seu perdão e por isto é uma canção que nos une a todos nós, pois todos necessitamos da graça de Deus e de seu perdão. Já a produção deste CD é uma longa história! O que eu posso resumir é que em cada fase do projeto a gente buscou os melhores estúdios e os melhores profissionais. Adilson K. Rodrigues foi basicamente o engenheiro que gravou todo o CD, cerca de 80 a 90% em estúdios como o Mosh, BeBop, KLB, Mega, Na Cena, etc. Depois fizemos a mixagem e a masterização com Nicholas Prout que é um audiófilo de primeira que trabalha na Chesky Records (uma gravadora extremamente purista que predominantemente produz jazz) de Nova York. Este zelo e esta busca pelo melhor juntamente com a necessidade de pesquisar e aprender MUITO para pode gravar este CD são as principais razões pelas quais demorou um pouco mais de seis anos para ficar pronto. E incrível é pensar que tudo foi feito com dinheiro e investimento privado, de maneira independente.
4. E como tem sido os comentários deste CD que vem numa proposta totalmente diferente do comum?
Os comentários têm sido os mais incríveis! Mesmo por parte de pessoas das quais você não espera uma boa receptividade tenho ouvido e lido depoimentos maravilhosos. Acho que no coração de todo ser humano existe esta curiosidade em relação ao judaísmo que beira o fascínio, até porque é a única cultura milenar que consegue se manter razoavelmente intacta há pelo menos 5.000 anos, ainda por cima com uma representação mundial. Mesmo com todas as adversidades ainda temos mais de 15 milhões de judeus espalhados por mais de 30 países. Só este fato já deixa qualquer um pelo menos intrigado de que alguma coisa de diferente há com este povo.
5. Qual é sua expectativa para o lançamento deste projeto? Você crê que o público irá gostar desta nova proposta?
Eu tenho certeza que qualquer um poderá se encantar com estas canções e com este CD. Talvez, especialmente para muitos dos jovens, ele poderá parecer um pouco calmo demais, mas todos nós, independentemente de idade, necessitamos de momentos de reflexão. E, além disso, muitas das letras das músicas são do texto original em hebraico. Pelo menos para a maioria dos cristãos tenho certeza que será uma experiência impactante escutar as palavras originais, escritas há quase 3.000 anos por Isaías, por exemplo, pela primeira vez. Este CD serve também para acompanhar e aprofundar o estudo daqueles que estudam hebraico seja na faculdade ou em casa, mesmo. Mas o que mais estou ansioso para ver é a reação dos próprios judeus. Afinal, a proposta, mesmo, deste trabalho não é de servir como curiosidade para os evangélicos, mas para abrir as portas para um possível diálogo–artístico-musical entre judeus e cristãos.

6. O lançamento de Avinu Malkenu é a realização de um sonho?
Um sonho… Muitos sonhos… de muitas pessoas! Meu, do meu avô por parte de mãe, que é por parte de quem eu tenho a minha ascendência judaica, do meu grande amigo Edson Nunes (que produziu este CD junto comigo) e sua família, de toda a minha família e de tantas outras pessoas que ouviram falar deste CD durante todo o processo e intercederam em oração para que este momento agora pudesse se tornar realidade.
7. Como tem sido para você estar numa gravadora multinacional entre os escolhidos para inaugurar esse projeto?
Embora eu sonhasse com isto, nunca imaginei que isto poderia se tornar realidade, até mesmo porque, antes de 2010, nenhuma outra gravadora multinacional havia se aventurado com seriedade e propriedade neste mercado. E o ambiente entre os que trabalham na Sony Music, dos que já pude conhecer, é realmente de pessoas apaixonadas por arte e entretenimento, mas com muito profissionalismo e know-how de business. Basta seguir o Mauricio Soares no twitter para constatar isto (@mauriciossoares e @SonyMusicGospel). Outra coisa incrível, na minha visão, é o fato de terem contratado tantos artistas de tantos gêneros diferentes e, ainda assim, fazerem questão de tratar a todos individualmente, respeitando as características que fazem de cada artista o que é, independentemente de qualquer outra coisa. Basta olhar os projetos gráficos dos CDs lançados até agora que isto fica evidente. A tentativa não é a de enquadrar ou encaixar os artistas dentro de uma visão comercial superficial, mas justamente de descobrir e respeitar a essência de cada um e, depois, analisar como tornar isto interessante para o maior número de pessoas possível e, por fim, alcançar exatamente estas pessoas.
8. Como é sua rotina diária? Você ainda estuda muito musicalmente falando?
Na verdade eu tenho duas ou três rotinas bem distintas. A que mais absorve meu tempo é a de quando estou viajando. Vivo em função da programação da qual vou participar desde a hora em que acordo. Até o que, quando e quanto vou comer depende de quanto tempo ainda falta para a programação. Exercícios de aquecimento, inalação, passagem de som, além de todo o preparo espiritual. Tudo que posso fazer pra melhorar a experiência de assistir uma programação ao vivo comigo, eu faço. Mas desta rotina as horas incontáveis que a gente acaba sempre passando nos aeroportos, fazendo check-in, ou a espera de uma conexão também fazem parte como também, quando há possibilidade, visitas a rádios e TVs e entrevistas também, nas cidades em que há contatos com estes veículos de comunicação. Quando estou em casa, minha prioridade é descansar, passar tempo com a esposa e os amigos. Me dedico ao ócio criativo, que é tentar favorecer o descanso da minha mente e do meu corpo ao ponto de ser capaz de escrever novas músicas, arranjos e desenvolver o conceito para o meu próximo CD. A gente sempre está meio que pré-produzindo o próximo CD, compondo, fazendo arranjos, imaginando e sonhando o que pode ser o assunto, etc. Desta fase a pesquisa é fundamental. Ouvir muita música, pesquisar sonoridades e instrumentistas e métodos de gravação. A última rotina é a da gravação. Daí tudo gira em torno disso e seria necessário um livro inteiro só pra falar disto (risos), mas isto é bem mais raro.

9. É verdade que após este lançamento você já começa a se dedicar a um CD de carreira para o ano que vem?
É… quero tentar fechar meu repertório o mais rapidamente possível pra já começar a gravar no mais tardar em outubro. Pelo cronograma da gravadora, ele tem que ficar pronto pra ser lançado em abril, o que para mim será MUITO difícil (risos). Demorei quase dois anos para gravar o Poemas e Canções, três anos para gravar Viver e Cantar e seis anos para fazer o Avinu Malkenu (risos). Mas agora também vou ter outro tipo de suporte e já sou bem mais experiente em relação às questões de produção. E já estou mentalmente trabalhando neste CD desde o início do ano, também. Vamos ver. Orem por mim!
10. Quais músicas você destaca neste projeto em hebraico?
É muito difícil destacar apenas uma ou algumas… O repertório todo forma uma unidade, mas as músicas que, provavelmente, mais vão se destacar naturalmente especialmente para aqueles que conhecem outras versões destas músicas serão a própria faixa título Avinu Malkenu, além de Adon Olam, a que escolhemos para ser a música de trabalho Yerushalayim shel zahav, l'cha Dodi e Osse Shalom.

11. E como você vê a qualidade da música gospel no Brasil? Quem são suas referências musicais?
Eu acho que com o aumento incrível da quantidade de evangélicos no país nos últimos 15 anos, a quantidade de música gospel também aumentou vertiginosamente. Antes, investir em música evangélica era uma loucura. Hoje, com o mercado do jeito que está, já se tornou quase uma necessidade ter um alto padrão de produção, até para poder se destacar da quantidade absurda de CDs que saem quase que todo dia. E tenho sentido que até o público tem se tornado cada vez mais criterioso e isso é bom. Hoje é necessário buscar o melhor conteúdo espiritual (unção), teológico, a melhor execução, melhor sonoridade, mixagem, arte gráfica… Tudo, enfim! Eu sou um profundo admirador e fã assumido de João Alexandre. Mas não posso negar minhas raízes, como Novo Tom e Arautos do Rei. Sou muito amigo também do pessoal do Oficina G3, do Baruk, mas tem surgido muita coisa nova e interessante, também como os Irmãos Arrais, Igl3sias, minha prima Laura Morena, que acabou de lançar seu CD, e minha esposa Daniela Araújo, cujo primeiro trabalho deverá ficar pronto até o final do ano.
Gentilmente cedida por Mauricio Soares, diretor executivo da Sony Music Gospel

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