6 de outubro de 2010

Delirious? - o fim de uma era

Por Rogério de Oliveira e Rafael Ramos


Discipline is the bullet in my gun
Freedom is the thing that keeps it fun
I'm trying hard to shed my other skin
And wash away the hurt that lies within
When sadness feels so strong
And hope does not belong

Disciplina é a bala na minha pistola
A liberdade é a coisa que a mantém divertido
Eu estou tentando verter minha outra pele
E lavar a dor que mente por dentro
Quando a tristeza é muito forte
E não tem esperança


Aí em cima, esses dois trechos são a mesma coisa. Um em inglês e outro em português. Expressar sentimentos com poesia é prazeroso para quem faz e extasiante para quem aprecia. Achar diversão na disciplina deveria ser obrigação de todos como sugere a letra da canção acima. E o fim de algo ou entender que as coisas acabam é, talvez, o ponto alto do entendimento do que seja disciplina. Acima vocês leram um trecho de A little love, ou então, Um pouco de amor. Essa música faz parte do repertório de Delirious?, a banda que escreve agora nas páginas da sua história aquilo que vem depois de qualquer poesia: o ponto final.

Antes do fim, vamos ao início. Delirious? é uma banda de rock britânica e também do pop, por que não?! A banda é formada por Martin Smith (vocalista e guitarrista), Stuart Garrard (vocalista de apoio e guitarrista), Jon Thatcher (baixista), Tim Jupp (tecladista) e Stew Smith (baterista). Fiquem cientes que descrever a formação de uma banda numa matéria sobre seu encerramento dá um aperto no coração. São mais que nomes em sequência de apresentação, são eles que estão naquela pilha de CDs lá nas nossas estantes e estão por lá há anos. Há um afeto nisso, há uma história. Sobre essa lista de nomes, já fizeram parte da banda em outras formações: Dave Clifton, Jim Bryan, Les Driscdl, Dudley Philips e Paul Evans.


Martin e Stewart se conheceram há muito tempo e a história de uma banda sempre começa quando dois grandes amigos se conhecem. Funciona assim porque para a gente aquele grupo de músicos é definido por banda, mas ali entre shows e autógrafos, é a amizade que os sustenta unidos. Eles se conheceram na igreja na qual o pai de Jonathan era pastor. Eles tocavam na igreja e, como acontece naturalmente nas histórias das grandes bandas, a música foi entrando por eles, se tornou parte da vida e decidiram formar uma banda. Eles precisavam de um guitarrista e um tecladista. Assim, encontraram Stuart e Tim em 1992. A década de 90 foi marcada, em seu início, por um sentimento assim: poxa, passamos pelos anos 50, 60, 70 e 80; o que iremos inventar agora? Esses meninos inventaram Furious?, o primeiro nome da banda. Em 1994 eles lançaram o primeiro álbum The Cutting Edge 1, seguidos por mais dois homônimos, formando assim uma trilogia inicial de carreira. A banda Delirious? é precursora em lançamentos de álbuns independentes no meio gospel e já em seus três primeiros projetos foi assim que eles fizeram. A independência somada a um novo estilo de música, que fugia do rock grotesco dos anos 80 e ainda assim não mergulhava de cara no pop alienador dos anos 90, fez com que a banda de consolidasse. Os meninos proporcionavam, ainda que com pouco tempo de experiência, um certo equilíbrio. Logo depois eles lançaram um álbum ao vivo – Live & In The Can – e já em 1997 lançam mais um gravado em estúdio: o álbum King of Fools.


Chegou 2008 e já como Delirious? a banda teve uma grande surpresa. Na verdade, não foi só a banda e sim a música gospel como um todo. Algo acontecia no mundo gospel na virada da década de 90 para os anos 2000. Ninguém sabia o que era. Saindo de um casulo de preconceito e intimidação, a música gospel agora era respeitada por todos os outros estilos e os grandes especialistas em música sabiam agora que entre “glórias” e “aleluias” haviam também talentos e muita, mas muita arte. Era bem assim. A surpresa foi que neste ano a canção Deeper da banda ficou entre as vinte mais tocadas em Londres contando com as músicas seculares. Esse feito era completamente inédito para um grupo da música gospel até então e ser pioneiro em um feito desses foi muito importante para que este acontecimento se tornasse uma vitrine ao que aconteceria depois. A importância de Delirious? para a música cristã atual é mais do que qualidade e álbuns recheados pela excelência, a contribuição deles também é histórica. Delirious? continuou lançando álbuns de sucesso e a influência deles veio ao Brasil. Aline Barros já gravou uma versão em português da canção I could sing of Your Love forever como Cantarei Teu Amor pra sempre. David Quinlan fez versão de The Happy Song como A canção da alegria. Outras versões foram feitas aqui no Brasil também. Em 2003 algo histórico na música gospel mundial aconteceu. Um verdadeiro encontro de gigantes! Delirious? foi até a Austrália, na conferência de Hillsong Church em Sidney para gravar um álbum com o Hillsong Live, conhecido como o maior ministério de louvor do mundo, seguindo por esta linha de grupo e classificação. Ali, durante a gravação eles se tornaram um grupo apenas e estavam juntos para adorar a Deus. A musicalidade do Hillsong é categoricamente mais suave que a de Delirious?, porém, ali houve uma unidade que ninguém soube explicar. Tal gravação empolgou ainda mais no investimento da versão jovem do ministério australiano: o Hillsong United. Não podemos deixar de esquecer a parceria com André Valadão na gravação do álbum Unidos em 2008 aqui no Brasil. André é um ícone da adoração pop aqui no Brasil e em nossa equivalência, tal encontro foi um marco para a música gospel brasileira. Quem já escutou o álbum pode ver André cantando em inglês, Martin arriscando no português e os dois juntos duetando grandes clássicos. Muito lindo de se ver e sentir.


A discografia da banda é esta:

Estúdio:
Audio Lessonover (1994-1995)
Cutting Edge (1994-1995)
King of Fools (1997)
Mezzamorphis (1999)
Glo (2000)
Audio Lessonover? (2001)
Touch (2002)
World Service (2003)
The Mission Bell (2005)
Kingdom of Comfort (2008)


Ao Vivo:
Live & In The Can (1996)
d-tour 1997 Live at Southampton (1998)
Access:d (2002)
UP: Unified Praise (2004)
Now Is the Time – Live at Willow Creek (2006)
Delirious+André Valadão Unidos (2008)
My Soul Sings (2009)





Além do pop

I see you smile,
You’re not living for this life,
Innocence, you remind us how it can,
Be right
And you make me free,
Come away our dreams will be

Eu vejo você sorrir,
Você não está vivendo para esta vida,
Inocência, você nos lembra como isto pode estar certo
E você me faz livre,
Vamos embora, viver nossos sonhos


Smile
é a mesma coisa que sorriso. Sorriso, por sua vez, é estímulo. Esse é um trecho da canção Waiting For The Summer do Delirious?. O último trecho é algo bem particular: “Vamos embora, viver nossos sonhos”.

A banda no qual trata esta matéria especial fez da palavra pop algo mais que a abreviação de popular. Equivocadamente, achamos que popular é aquilo que, pela baixa qualidade, agrada a muitos. Engana-se, meus caros, aqui com Delirous?, popular, ou então pop, é algo que fixa no ouvido pela facilidade e pelo estilo da inauguração. Sim, pois a banda em questão inaugurou um gospel pop rock com responsabilidade e ousadia. Delirious? ensinou durante esses anos que é possível evoluir na trajetória de uma carreira e mesmo depois de anos é possível deixar saudade na hora de se despedir. Hoje vemos as bandas de rock se esforçarem para sair da mesmice que todas juntas se propuseram a ocupar. É só parar e olhar o início da banda em questão aqui: ela começou a revolução com tanta simplicidade que talvez por isso sua trajetória fez mudar muitas coisas. Rock não é só guitarra, mas a reguscagem de guitarra, teclado, bateria, baixo; tudo junto!

Falando sobre Delirious?

Já disse e repito sobre a influência da banda aqui no Brasil e sobre isso vários ministros e músicos tem a dizer:
“Foi uma experiência muito bacana gravar o CD Unidos André Valadão + Delirious?. Eu já conhecia o Delirious? há muitos anos, acho o trabalho deles lindo, apesar de nunca ter sido fã. Quando gravei com eles tinha um CD deles só. Mas sempre soube que era uma banda muito boa, muito legal, e eles queriam estar mais fortes no Brasil. A proposta do trabalho deles é que fossem mais conhecidos aqui. Fizeram uma pesquisa e chegaram até o meu nome, dali, entraram em contato e me convidaram para o projeto. Foi uma honra gravar com eles. É uma banda muito abençoada com coração missionário e desejo de abençoar as nações”
André Valadão

“Bem! Quando recebi o convite da produção musical de Aline Barros em meados de 2003, me senti grato pelo reconhecimento e por poder fazer parte do CD de uma grande intérprete do gospel. Na verdade essa música (Cantarei Teu Amor pra sempre) foi a primeira música que conheci do grupo Delirious? e achei interessante e logo em seguida fui a procura de outros CDs da banda. Achei um DVD onde a banda toca junto com a Hillsong e me interessei ainda mais. Gosto da forma como eles usam elementos e instrumentos diferenciados que soam muito bem com esse estilo meio U2. As letras são diretas e muito tocantes. Espero que possamos vê-los novamente em ação nos palcos, mas agora fica o legado de uma banda que marca a música gospel não apenas em Londres mas em todo o mundo”
PG

“O que falar sobre uma das bandas mais conceituadas do planeta? Quando fui convidado para escrever sobre a banda Delirious?, senti-me honrado e triste ao mesmo tempo. Honrado por ter a oportunidade de compartilhar com você algumas palavras sobre a banda, triste porque o grupo não existe mais como banda. Tive a oportunidade de gravar, por duas vezes nos meus CDs Eu quero Te ver na voz de David Quinlan e agora em nosso lançamento Eu Te Bhusco na minha voz, a música I Could Sing Of Your Love Forever (Cantarei Teu amor pra sempre) na versão de David Quinlan. Esse hit marcou minha vida há alguns anos e vem marcando ainda hoje todas as vezes que a ministro. Esta e outras canções maravilhosas marcaram uma geração inteira ao redor do mundo. Milhões de pessoas, no mundo inteiro, foram abençoadas com as canções do Delirious?. Mesmo com o término da banda Delirious?, todos nós sabemos que a músicas serão imortalizadas e ao ouvirmos e vermos algo sobre a banda, lembraremos com muita alegria de que Deus os usou ao redor do mundo com muita unção e graça para nos abençoar com toda sua trajetória”
Clóvis Ribheiro

Mesmo os que não são fãs da banda, ter o contato com eles é válido pelo que eles podem ensinar. Não que eles fazem isso intencionalmente, mas entender a forma de trabalho desses músicos é algo que em depoimentos as pessoas falam de forma positiva. Eles encantam a principio pela forma com que tratam seus fãs sem estrelismo ou desdém. Em turnês e em seus shows, o que se comentam ao final de cada apresentação é que a fartura é garantida e que a música sendo vista ao vivo é ainda melhor. Delirious? é uma banda provocadora de saudade. Que bom que o play poderemos apertar quando quisermos para apreciá-los.

When the music fades
All is stripped away
And I simply come
Longing just to bring
Something that’s of worth
That will bless Your heart

Quando a música terminar
Tudo será lançado fora
E eu simplesmente virei
Ansiosamente trazer
Algo que é de valor
Que irá abençoar seu coração

“Terminar” e “música” deveriam ser palavras proibidas na mesma frase. Isso é impossível, pois a música nunca termina. Mesmo quando as bandas decidem parar, mesmo quando Delirious? decide fazer nossos corações ficarem apertados. É um trecho de Heart Of Worship.

E é claro que a banda tem a dizer sobre este término:
“O fim de uma era… Domingo, 06 de Julho de 2008”

Nós gostaríamos de esclarecer a todos os nossos fãs, os nossos amigos, e pessoas ao redor do mundo que têm apoiado fielmente o Delirious?

Depois de 14 álbuns, na frente de milhares de milhões de pessoas, e muitas memórias extraordinárias, nós decidimos que, no final de 2009, vamos fazer uma pausa de gravação e shows como a banda.

A nossa decisão foi tomada por um pedido de Martin para sair da banda para prosseguir com novos projetos, incluindo o seu trabalho com CompassionArt e o desejo de estar em casa mais com Anna e dos seus filhos. Temos, naturalmente honrado este pedido e tomamos a decisão em conjunto que este é o momento de pôr um marco a este capítulo nas nossas vidas.

Vamos continuar a tocar em nossa atual agenda, tours e reservas, mas não serão mais acrescentadas ao longo dos próximos 17 meses.

Estamos todos tão profundamente gratos aos nossos fãs incríveis que tenham cantado as músicas e permitindo ao Delirious? o privilégio de fornecer a trilha sonora de muitas vidas ao longo dos anos. Da escola municipal em Littlehampton para os estádios do mundo, temos muitas histórias para contar os filhos de nossos filhos. Delirious? também não seria o que é sem a nossa maravilhosa esposas e famílias, e a nossa gratidão a elas é imenso. Vamos agora avançar para a próxima etapa de nossas vidas, onde os novos desafios e histórias serão escritos.

Queremos deixar bem claro que embora esta decisão tenha sido extremamente dolorosa e difícil, ainda estamos muito amigos e nosso respeito um com o outro, é inquestionável. Adoramos tocar nesta banda juntos e sabemos que, mesmo que trará 2009 o fim a esta jornada atual, haverá mais aventuras juntos nos próximos anos.

A música acabou indo mais longe e mais profundo do que alguma vez poderíamos ter sonhado, ainda não estamos num ponto em que os nossos futuros irão espalhar-se e tomar viagens diferentes.

Obrigado novamente por acreditar em nós através de todos estes anos. Nós acreditamos que o melhor ainda está para vir.
Jon, Martin, Paul, Stu G, and Tim
A sutileza e a satisfação da banda para com seus admiradores é bonito de se ver. E a fidelidade de fãs é conquistada por isso. Terminar esta matéria com a fala deles é nossa real intenção, assim quando todos saírem, eles mesmos é quem apagão as luzes e fecharão as portas. Só que é impossível não expressar a nossa opinião super parcial sobre isso tudo: o Brasil, os fãs, os internautas, os adoradores e o Gospel do Divã, todos esses, se levantam e aplaudem demoradamente.

3 comentários:

  1. Nossa é realmente uma pena... A reportagem quase me fez chorar!!!!
    Justo agora que eu estava querendo conhecer melhor a banda. Que Deus abençoe a eles grandemente!!!

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  2. nossa inacreditavel, so muito fan da banda, sempre Deus falou comigo com as musica, fiquei muito trsite porque fui procurar uns videos e nao encontrei eles mais juntos, que pena mais que as musicas a qual foram gravadas e dvds fikem na historia e ganhe muitas almas para o Senhorr

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  3. Sei lá... O Martin quis acabar mas continua na carreira solo... Dá mais a parecer que ele não queria é dividir a grana com o grupo... se não, porque voltar a cantar solo? Só os caras pra saber a verdade mesmo...Mas gosto muito dos caras, do som deles, letra...Mas tem agora o ONE SONIC SOCIETY, é com quem sobrou da banda... e é um som legal. Saudações.

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