A toque de caixa

Por Rafael Ramos – Fotos: Rafael Moraes*

A equipe do Gospel no Divã marcou presença no prédio da Sony Music nessa segunda-feira (26) e conversou com o responsável pelo selo gospel da gravadora. Mauricio Soares anunciou os próximos projetos da Sony, além de adiantar alguns detalhes sobre o novo CD do Renascer Praise que é esperado com muita ansiedade pelo público e vem repleto de surpresas. Mauricio também falou sobre o programa do momento – o Desafio da Música Gospel – e da premiação virtual que promoverá em breve: o Observatório Awards 2010.


DMG – DESAFIO DA MÚSICA GOSPEL

Esse é um projeto da produtora Creative Works que nos procurou no início do ano e perguntou se poderíamos lançar o CD do vencedor. A nossa participação inicia e termina com o lançamento dos CDs dos vencedores. Nós vamos entrar na fase final do projeto quando a gente tem a possibilidade de lançar o trabalho desse vencedor, mas não estamos trabalhando na produção do programa. De vez em quando a gente assiste e dá uma opinião, mas só estamos entrando na produção fonográfica mesmo. Do que eu já vi, o programa está melhorando cada vez mais, acho que no primeiro ano ele vai errar e acertar e a tendência é que melhore nas próximas edições.

CAST

Resgate, Renascer Praise, Rayssa e Ravel, Elaine de Jesus, estamos assinando agora com Marcelo Aguiar e Leonardo Gonçalves. O cast está sendo montado e vai ser entre 15 a 20 artistas com uma leve predominância de artistas pentecostais porque é o retrato da música gospel no Brasil e do consumo de CDs. Vamos ter uns cinco artistas pentecostais e os outros nas mais variadas vertentes.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

O primeiro lançamento da gravadora é em maio com o CD Ainda não é o último do Resgate com letras bem inteligentes, bem diferentes. Eu conheço bem a discografia do Resgate e ouvindo esse trabalho, não é porque vem sobre a chancela da Sony, mas é o CD mais bem acabado deles que estão muito maduros, as músicas estão muito boas e foi até difícil escolher qual seria o single de trabalho porque eles estão com cinco músicas muito radiofônicas para se trabalhar em rádio. O single já começa a ir para rádio a partir da semana que vem, nós estamos com um clipe que nós gravamos a toque de caixa para bombar na internet e nos programas de televisão. Em junho, lançamos o CD do Renascer Praise 16 – Andando sobre as águas – e vai ser lançado na Marcha pra Jesus em São Paulo com três milhões de pessoas e em julho lançamos o DVD. A tendência é lançar Rayssa e Ravel em setembro com a ExpoCristã em São Paulo. Os que já estão bem encaminhados, alguns outros estão sendo conversados e trabalhando repertório. Queremos lançar o maior número de produtos.

ARTISTAS INTERNACIONAIS

A gente lança neste ano o novo CD do Casting Crowns, do Michael W. Smith, do Fireflight, Jars of Clay, Tenth Avenue North que é o maior sucesso nos EUA e lançamos simultaneamente em maio e aproveitando a vinda dos artistas no Brasil para fazer uma massificação. O Leeland vem agora para o seminário Livres para Adorar que tem apoio da Sony Music onde vamos fazer uma turnê de divulgação. O mais importante é que o internacional que for lançado nos EUA e tiver adequação no Brasil passe por aqui também.

ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO

O mais forte é usar todas as mídias gospel com maior ênfase em web e rádios. A mídia impressa fica em um segundo plano, mas a mais forte é a web por toda dinâmica, facilidade e questão financeira. Temos hoje um plano de mídia que elenca as 25 mais importantes rádios evangélicas do Brasil. Dependendo do artista, a gente vai também trabalhar em mídias seculares porque não é todo artista que tem o apelo para ser trabalho na mídia secular. Sempre tem que ter uma música um pouco mais cross-over trazendo uma mensagem que não agrida uma mídia secular. Dentro do nosso cast, eu diria que o Resgate dá para fazer, Rayssa e Ravel na linha romântica e entrar com músicas no repertório de cantores seculares como compositores. O que a gente vai tentar fazer é abrir ao máximo o mercado secular para a música gospel e temos pessoas que só trabalham com essas redes ligadas durante 24 horas.

ERA DIGITAL – MUSIC TICKET PLUS

Na verdade, a gente já até mudou o nome e passou a ser Gospel Music Ticket que vai ser lançado oficialmente no Brasil com o show do Michael W. Smith em São Paulo no dia três de junho em uma parceria com a produtora Goldlight que nada é mais do que um cartão com um código de acesso que você preenche um rápido cadastro e acessa um ambiente onde tem várias informações sobre o artista, você pode fazer downloads gratuitos de músicas, entrevistas, vídeos, wallpapers. Esse Music Ticket é um cartão PVC como um cartão de crédito onde você raspa e esse código lhe dá acesso a esse ambiente. Os objetivos do Music Ticket são: criar um CRM (Customer Relationship Management – Gestão de Relacionamento com o Cliente), um relacionamento entre a gravadora e o consumidor final, criar um hábito para o consumidor final de acessar a página web e ali fazer digitalização de músicas, ter o hábito de consumo de música digital e aí vale ressaltar que pela primeira vez, em quatro anos, a venda de música digital através de sites legalizados foi superior à venda de telefonia móvel. Até agora música digital falava-se através da telefonia móvel, ano passado a venda por download legal superou a venda da telefonia móvel que é um grande fato porque isso já demonstra já um hábito de as pessoas começarem a acessar e baixar música.

O FIM DO CD

Esse sentimento apocalíptico não procede. A música digital cada vez vai crescer, só que o que determina um bom download é a banda larga. No Brasil são poucos os que têm acesso tanto que o Governo Federal está em um grande briga para lançar a Bolsa Digital e aumentar a capacidade de banda larga no Brasil para ver se chega aí a 40 milhões de lares. Hoje ainda é muito ínfimo e é exatamente a qualidade da banda que determina o download, então se você não tem uma boa banda larga, você não vai conseguir uma boa captura de músicas. O que a gente também se engana muito é o fato de nós morarmos nos grandes centros, a gente acha que esse é o retrato do Brasil. Você vai a 60km daqui, em Nova Iguaçu e Queimados, o Grande Rio não tem banda larga. Então por isso que o CD tem ainda uma sobrevida muito grande porque quem consome CD no meio evangélico é classe C, D e E que são pessoas que têm menos acesso à banda larga.

NOVOS TALENTOS

Daqui a um ano e meio porque para cada artista de sucesso que você trabalha você teria outros 50 novos talentos de muita qualidade para trabalhar. Então como você não pode matar a galinha dos ovos de ouro trazendo esse peso de novos artistas, você tem que realmente ter um cast muito forte e a cada dez artistas muito fortes você começa a trabalhar em um novo talento. Você fazer virar um novo talento por mais talentoso que ele seja é muito caro, a indústria fonográfica é muito cara, ela demanda muitos investimentos, muito tempo e, às vezes, você investe no artista e ele tem talento, mas não tem inteligência e a pessoa fica pelo meio do caminho.

ACEITAÇÃO DO MERCADO

O que mais me impressiona nesses quase quatro meses de trabalho foi a receptividade do público para a entrada da Sony. Nós tínhamos um medo, um receio de haver algum xiita. Até chegamos a projetar a possibilidade de colocar o nome de um selo como “Lírio dos Vales Records”, mas resolvemos testar com a marca Sony que é consolidada há 60 anos no Brasil e a receptividade tem sido excelente. O que eu percebo pelo twitter e pelo email é que as pessoas queriam algo diferente do que estava sendo proposto há anos e anos. É uma quebra de um monopólio, uma maior democratização sobre a questão da qualidade de música. Como trabalhei nas principais gravadoras evangélicas, eu entendo muito bem o que essas pessoas tinham como necessidade e acho que a Sony está atendendo muito bem esse anseio, essa demanda reprimida. A banda Resgate tem aí 21 anos e são muito bons, fazem um som diferente. Rayssa e Ravel têm muito talento, uma dupla sertaneja fora do padrão do gospel, eles têm até condição de fazer um trabalho fora do mercado evangélico. A gente está demonstrando talvez que não existem somente duas ou quatro letras que comandam o mercado gospel.

PRECONCEITO

No catálogo secular da Sony, de dez cantores americanos oito começaram nas igrejas porque lá culturalmente a igreja evangélica está intrínseca no dia-a-dia. Acho que esse preconceito de música brega é culpa nossa mesmo. A gente tem uma capacidade de Ctrl+C Ctrl+V absurda de simplesmente reproduzir, copiar. Qual a música de sucesso? É sobre águas, vai todo mundo falar sobre água. Chuva, vai todo mundo falar sobre chuva. A Bíblia é um livro que está aí há séculos e todo dia você consegue ler uma coisa nova, você descobre uma coisa nova, você vê um ponto-de-vista diferente. Por que a música que tem que se basear teoricamente em cima de conceitos bíblicos precisa ser repetitiva? Então eu acho que a nossa música já cresceu bastante, mas tem muito a evoluir principalmente a questão de produção de repertório.

RENASCER PRAISE

Foi uma festa muito legal com 50 mil pessoas. Eu me impressionei porque os portões iam abrir por volta das três da tarde e às dez e meia da manhã já tinha umas 10 mil pessoas e uma hora da tarde tinha 20 mil pessoas. Uma das imagens que foi mais marcada para mim foi na hora em que abriram os portões. Eu fiquei muito impressionado e é um projeto muito legal. O Renascer Praise tem uma característica de misturar muitos ritmos como frevo, axé e clássica e esse não foi diferente. Davi Sacer e André Valadão participaram e foram muito ovacionados, além do DJ Alpiste que é membro da igreja, e o Marcelo Aguiar. O local foi o Museu do Ipiranga que é lindíssimo, um dos cartões postais onde foi feito o grito do Ipiranga. 500 pessoas no coral, 80 na orquestra, mais 200 músicos. O Renascer também é um negócio muito engraçado porque, como é ministério de igreja, sai um baixista e entra outro porque é justamente a ideia de comunidade onde todo mundo participa. Houve horas com 200 pessoas no palco, grupos de dança tinham 150 pessoas com street dance, um grupo de dança baiana. Nosso diretor artístico ficou impressionado com as músicas e toda dinâmica do evento. Um dia antes da gravação, foi feita uma coletiva de imprensa onde, com muito tato, perguntaram sobre a fase ruim que eles viveram e o Apóstolo Estevam Hernandes respondeu que de tudo o que viveram só o que é ruim efetivamente é a situação do filho Tide que está três meses em coma. A igreja em si não teve perda de público, impressionante como a coisa cresce nessas horas. O DVD foi gravado com 12 câmeras em HD-Full e conseguimos em uma parceria com a Sony Eletronics uma sessão com 17 câmeras de mão e entregamos na mão do povo. Então teremos uma visão com as 12 câmeras com aquela visão profissional e mais 17 com aquela visão da galera com aquela imagem tremida, além de tomadas aéreas com helicóptero. O DVD vai sair na versão comum e em sequência será o Blu-ray.

OBSERVATÓRIO AWARDS 2010

Na verdade, isso foi uma grande brincadeira porque eu trabalhei durante muito tempo no Troféu Talento e eu sei o quanto que é importante para os artistas e o Troféu fez uma comunicação muito melancólica. Creio que a premiação desse ano já tenha perdido o time (tempo) e qualquer coisa que eles façam agora vai ficar com cara de requentado. Vendo essa orfandade toda aí, a gente fez uma brincadeira de lançar um troféu e a resposta foi muito boa e isso nada tem a ver com a Sony. O que vamos fazer é o seguinte: mobilizar o povo, a partir da semana que vem vamos começar a abrir os canais para as pessoas enviarem suas sugestões. Vou juntar umas 50 pessoas, inclusive vocês do Gospel no Divã, e cada um vota e no final vamos ver quem ganhou mais votos. É algo virtual, simbólico em um ano que não teve um troféu oficial para os artistas movimentarem seus canais de relacionamentos. Se a gente conseguir um patrocinador para fazer um projeto, a gente faz e envia. Foi uma grande brincadeira que foi se tornando uma coisa mais séria. O que vai ficar legal na questão do Observatório é a questão do público e, na segunda fase, é com quem entende. Queremos fazer um pouquinho mais academia.

*A foto do Renascer Praise foi gentilmente cedida pela Sony Music