8 de junho de 2010

Boom! O Gospel explode!


Por Rogério de Oliveira

Um a um, vinha em nossa direção o ano de 1998, depois 1999 até chegarmos em 2000. Dizem os livre-pensadores por aí que a década de 90 foi a mais alienada de todo o século XX. Talvez seja mesmo. Depois de experimentarmos todo o tipo de novidade e vanguardismo neste século biruta, restou-nos a mergulharmos naquilo que vinha pronto nesta última década. Talvez por cansaço, talvez por uma breve vontade de se repetir. Acontece, meus caros, que a mesmice não ficou pairada no ar por muito tempo. Dia desses no MSN, ainda planejando esta série, estávamos eu e Rafa (Rafael Ramos, o nosso querido chefe! Rs...) discutindo sobre a música gospel brasileira e seus vícios e virtudes. Concordamos em tudo, inclusive quando pensamos que esta década atual, a de 2000, vai ficar para a história. Foi a partir dessa concordância que o Rafa aprovou a ideia de Década Remix. Uhulll!

Semana passada, vimos que a MK deu o pontapé inicial nisso tudo que vivemos hoje. Entendemos o que é de fato o “gospel”, vimos como surgiu essa coisa de “celebridade gospel” e conhecemos o início desta revolução que também tem como culpados eu que estou aqui escrevendo e você que está aí lendo. Ahan, achou que não ia sobrar para você, né?! Pois é, você também é culpado disso tudo. Parabéns por isso!


O ano era 1998 e a cidade era Belo Horizonte. Bem lá na Igreja Batista da Lagoinha algo estava acontecendo. O ministério de louvor da Igreja revolve gravar um CD para levantar recursos para os seus projetos missionários. Ana Paula Valadão, líder de louvor deste ministério havia acabado de chegar dos EUA, onde estudou “Louvor e adoração” por dois anos. O primeiro CD, chamado de Diante do Trono, foi lançado com uma tiragem de cinco mil cópias apenas para os membros da igreja. Vendeu 100 mil. Como assim? O que houve? Calma, Cláudia, senta lá! O Ministério de Louvor da Lagoinha passou a se chamar Diante do Trono e lançou no ano seguinte o álbum Exaltado. Também vendeu muito. Eis que chega o ano 2000 e o “bug do milênio” não traz o fim do mundo. Acontece uma explosão em BH. O Ministério de Louvor Diante do Trono grava Águas purificadoras, terceiro álbum da série DT. Neste álbum, Ana Paula começa a cantar letras compostas na hora dentro do ritmo da musica. Hã? Isso mesmo, surgem os famosos espontâneos. No mundo inteiro, aquilo era algo inédito. Eles resolveram incluir este trecho da gravação no CD. Estima-se que Águas purificadoras vendeu mais de um milhão de cópias. Certamente vendeu mais que muitos cantores seculares naquele ano.


Era o que conhecemos como “Avivamento”. O Diante do Trono inseriu no Brasil algo que nunca tínhamos experimentado. Primeiramente, o estilo congregacional mostrou que também pode ser pop. Isso o DT trouxe do Hillsong que, em 2000, já era fenômeno no mundo inteiro. Entretanto, o DT abrasileirou o negócio. Surge também um dos maiores chavões do gospel aqui no Brasil: “ministração”. Eu ministro, tu ministras, ele ministra e por aí vai... Vamos entender avivamento. Se você que estiver lendo este texto for evangélico, avivamento é o mover do Espírito Santo dentro das igrejas. Isso faz com que as ministrações se tornem mais espontâneas, regadas de busca por libertação, etc. Isso também faz com que experimentamos novos ritmos de música. É mais ou menos isso misturado. Se você que estiver lendo não for evangélico, avivamento é uma forma mais pop de fazer um culto. Uma maneira mais intensa em termos sensoriais de vivenciar o que a Bíblia diz. Ufa, acho que deu pra explicar! O Diante do Trono tinha tudo para dar certo. A voz de Ana Paula era doce, seu jeito era meigo. O grupo, como um todo, era bastante carismático e algo não se pode negar: a qualidade técnica do Diante do Trono no início da década de 2000 era única no gospel brasileiro. Eles revolucionaram nisso também. Claro, não estou levando em conta os músicos da Igreja Adventista que também sempre foram referência nisso. Apenas estou fazendo jus ao DT por causa de sua popularidade. Afinal, convenhamos, juntar qualidade e sucesso neste país não é fácil! (Rogério prefere não citar nomes! Rsrs). Em suas turnês pelo Brasil, o DT passou a juntar multidões, outro fato inédito na música gospel brasileira. A MK nos famosos eventos que realizava já juntava milhares de pessoas no Rio de Janeiro. Lembram dos Canta Rio 98, 99, etc? Então, só que agora era apenas um grupo reunindo multidões. O Ministério de Louvor Diante do Trono se tornou a maior referência pop do Brasil até hoje. É de longe o maior ministério de termos de produção de conteúdo e expressão nacional. Continuaremos citando o DT nas próximas postagens do Década Remix.

Surge também na década de 90 e se massifica nos anos 2000 o neopentecostalismo. Linha religiosa genuinamente brasileira que teve como precursores os dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus. Várias são as características que determinam um neopentecostal. A que nos importa é sua relação com a mídia. Toda igreja neopentecostal que se preze possui um programa de TV. A quem diga que elas se firmaram por isso. Foi por meio desta linha religiosa que se popularizou no Brasil o hábito das igrejas evangélicas produzirem seus programas de TV. Era a cultura do gospel chegando a cada lar neste “brazilzão” de meu Deus! Rsrs... Sabemos do poder da TV no Brasil e ter pastores pregando diariamente nos canais abertos certamente traria mudanças na concepção das igrejas que investissem neste meio. Prova disso é que a Igreja Universal do Reino de Deus foi por anos a que mais cresceu no Brasil. A Igreja Internacional da Graça de Deus, também neopentecostal, possui o canal evangélico que mais cresce no Brasil. E, por fim, a Igreja Mundial do Poder de Deus é atualmente a que mais cresce. Ambas investem na mídia televisiva. Será a era do tele-evangelismo? Não se sabe ao certo, o que sabemos é que a coincidência de nomes: “Universal”, “Internacional” e “Mundial” faz sentido quando vemos as multidões que estas denominações têm juntado. Mais um passo positivo foi conquistado pela “cultura gospel” por meio destas igrejas ao levarem este modo de viver à televisão. É preciso tornar Jesus notável!

Se juntarmos o fenômeno pop chamado Diante do Trono com a receita infalível do gospel na TV brasileira, o que podemos ter?! Ora essa, sucesso, é claro! Já no início da década de 2000 quando houve o grande boom do louvor e adoração e as TVs evangélicas cresciam sem parar, os CDs gospel eram os mais vendidos do mercado. Naquela época os membros ainda acreditavam que pirataria era pecado. Álbuns como Preciso de Ti (2001) e Nos braços do Pai (2002) do Diante do Trono venderam mais de um milhão de cópias. Até então quem havia conseguido isso era Zezé Di Camargo e Luciano juntamente com Sandy e Junior no Brasil. Outros seculares também já alcançaram esta marca, só que como exemplo, esse aí já valem a pena.

Quem comprava estes CDs? Você, é claro! Viu como a culpa também é sua por causa da popularização do gospel no Brasil. E isso foi bom. Nossa música era conhecida por sua baixíssima qualidade. Isso mudou, mudou muito! Aliás, vem mudando ainda!


Semana que vem iremos falar sobre a importância do vídeo-clipe no gospel. Falaremos também dos “pastores-ministros-empresários-apresentadores” e dos novos ministérios que surgiram na era pós-DT. Apareça por aqui para continuarmos remixando os anos 2000.

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